domingo, 30 de novembro de 2008

Coisa de Anjo (Conto)

Conhecia o mistério daquele sorriso de longa data. Naquele dia estaria ainda mais atraente.

Passou perto dela, que trabalhava de costas para a porta e apertou-lhe os ombros dizendo em seguida que ela estava tensa e merecia uma massagem, prometendo fazer-lhe esse agrado.

Sentiu ferver-lhe as maçãs do rosto e sem titubear respondeu que cobraria a promessa.

Na saída do trabalho, ele que até então era seu colega, perguntou o que ela faria logo mais.

Respondeu-lhe timidamente que não tinha programado nada.

O dia era quente, meados de janeiro e ela logo percebeu que ali havia alguma intenção. Gostou da idéia, já o havia notado embora achasse que não passaria de olhares.

Ele então lhe perguntou se poderia telefonar para marcarem algo, quem sabe uma bebida, um jantar. Ela prontamente aceitou, porém duvidou que acontecesse.

Em menos de duas horas ele telefonou e combinou com ela um horário para saírem, e na hora marcada estava à espera dela.

Munido do kit da conquista, desceu do carro e cortejou-a abrindo-lhe a porta, além disso, era portador de um charme irresistível.

Ele disse já ter escolhido o lugar que a levaria para jantar, pois tinha certeza de que seriam muito bem atendidos, além de saber que a agradaria também.

No caminho, que não foi muito longo, mil coisas passavam-lhe pelas cabeças. A conversa tentava tomar um rumo descontraído, mas ambos estavam tensos.

Ele era um homem alguns anos mais velho que ela, mas tinha um ar de menino indefeso e isso a atraía absurdamente. Descobriu que o desejava como nunca havia desejado homem algum.

A gentileza dele foi tanta, que cuidou de cada detalhe: a escolha da mesa, do vinho, do jantar requintado no endereço mais elegante e caro da cidade. Conversaram amenidades, trocaram elogios, demonstraram o desejo mútuo.

Na volta para casa ela não imaginava o que a aguardava. Em certo ponto do caminho, ele entregou-lhe uma caixa que continha um óleo de massagem e então ela entendeu instantaneamente que fazia parte do kit da conquista, o pagamento da promessa feita naquela tarde.

Ela então consentiu.

Sentada de costas para ele, sob o tapete da sala ampla, recebeu a massagem daquelas mãos que percorreram seu corpo como se já o conhecesse antes. Os toques delicados e fortes quase a faziam desfalecer de desejo. Não se contiveram e fundiram não só os corpos, mas também as almas.

Sob o tapete aspirava o perfume do peito largo e forte sentindo em suas costas o calor do abraço que a envolvia.
Nasceu entre eles um amor instantâneo. Fizeram um pacto de vida, seriam um do outro para sempre. Respiravam-se durante as vinte e quatro horas do dia, pelos anos que se seguiram.

Quando pensavam que viveriam felizes para sempre, a fatalidade os surpreendeu: uma manhã de um dia comum, outro assalto a um homem comum, um tiro comum, a morte comum e incompreensível.

Uma bala atravessara aquele peito onde ela não mais se deitaria para aspirar o perfume.

A gentileza era agora inerte, e ela agora era só metade.

Sepultou com ele todos os segredos que viveram e faria o que fosse possível para completar o que lhe faltou viver nessa vida.

Anos depois sonharia com ele sorrindo, abrindo-lhe outra porta e mostrando a ela um outro caminho.

Não tardou para que ela conhecesse novamente o amor, em outro homem menino, anjo sem asas com rosto iluminado de sorriso.

Como anjo também voou de sua vida, porém sem morrer. Deixou-a mais viva, com a capacidade de poder abrir suas novas portas sozinha.


sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Dor Entorpecente

Aquele homem teria por volta de trinta e poucos anos, mas sua fisionomia triste e carregada de vazio fazia-lhe velho. Branco, de estatura mediana, cabelos longos, crespos e embaraçados.

Sentou-se à mesa no canto próximo a parede e pediu uma bebida, um trago forte para anestesiar-lhe o dia.

Ouvia música com fones de ouvido, mas em um volume tão alto, que no salão todos poderiam até dançar.

Em certos instantes olhava o nada, outros fechava os olhos sacudindo a cabeça e o corpo desajeitadamente talvez tentando acompanhar o ritmo da música.

Aquele momento era só dele e não se importava com o vai-vem das pessoas e com o que elas falavam. Algumas o olhavam com um ponto de interrogação nos olhos, comentavam algo e ele nem percebia.

Outro copo, depois mais um. Demorou ali por volta de hora e meia. Naquele mundo tentava esconder-se de alguém, acho que era de si mesmo.

Do canto eu observava aquela face entristecida, quem sabe o que estaria passando naquela cabeça e o que estaria vivendo aquela vida.

Um misto de dor e indiferença pairava sobre ele e o álcool lhe ruborizara a face alva.
Não sabia o que fazer com as mãos e então teceu duas tranças nos cabelos longos. Ficou estranho, mas engraçado. Continuava pouco lhe importando a opinião dos demais presentes.

Foi então que se levantou e cambaleando caminhou até o balcão para pagar sua anestesia temporária.

Eu continuava olhando. E também doía em mim. Indaguei então:

Quem de nós seria o mais covarde:e
le por esconder-se da dor atrás do copo de bebida ou eu por regar com meu copo de lágrimas as flores nascidas sobre o jazigo do amor que acabei de sepultar?

sábado, 22 de novembro de 2008

Só o Passado é Seguro


Faltando um pouco mais de um mês para o final do ano, tudo o que vemos são anúncios relacionados ao futuro.

Compras de natal, a roupa branca do ano novo, universidades divulgando as datas das provas dos vestibulares que, por sua vez, também prometem um futuro em virtude da profissão escolhida.

Apesar de muitas dessas coisas serem concretas, vejo tudo num contexto etéreo e abstrato, meio inalcançável ou impalpável. Não, isso não é incredulidade, ao contrário.

Por causa dessa marca do tempo em nós, que cronometra tudo aquilo em dias e horas e minutos e segundos e centésimos e milésimos e assim sucessivamente, ficamos um tanto quanto presos às coisas menos importantes e esquecemos do nosso futuro. Nos dias de hoje e já há algum tempo, temos nos esforçado muito para cumprir metas que não são diretamente nossas.É só olhar os papéis sob sua mesa no escritório.

Claro que é hoje o dia que mais importa viver. E ultimamente temos ouvido essa frase milhares de vezes, incessantemente.

Todos devem abraçar carinhosamente seus projetos pessoais. Não importa se você tem 10 ou 80 anos de idade. É saudável e motivador imaginar que você pode criar algo em benefício de si mesmo e estender isso a outras pessoas.

Essa época festiva , não é lá muito graciosa para mim. Vejo que se tornou tudo muito comercial e algumas coisas perderam completamente a razão de ser, mas algumas acabei por conservar justamente para ter diretriz, planos e medir ao final de cada etapa a minha evolução pessoal nessa vida maluca e mutante.

Sei que muita gente tem o hábito de fazer promessas de final de ano e são amplamente variáveis. Essas promessas podem ser projetos pequenos ou grandiosos, mas é necessário ter um cuidado imenso com elas.

Quando prometemos algo a alguém e não cumprimos, certamente esse alguém fica decepcionado pela expectativa não correspondida, assim como também nos decepcionamos com os outros. Isso funciona proporcionalmente numa escala bem maior quando as promessas são de nós para nós mesmos. Quando nos prometemos coisas que serão impossíveis de cumprir por algum motivo inerente à nossa vontade, corremos o risco de cair em desânimo e cobrar de outras pessoas o que é responsabilidade só nossa.

Precisamos dar passos pequenos e firmes em direção aos objetivos. Se eu desejo comprar uma casa ou uma grande viagem, terei de planejar tudo primeiro e isso deve obedecer a um tempo razoável. Talvez poucos meses não seja tempo suficiente.

Tem gente que deseja comprar coisas menores, cuidar do corpo, ter um filho, um relacionamento, mas também não tem consciência dos investimentos necessários e do tempo que leva para amadurecer tudo isso, sobretudo internamente.

Estamos muito habituados a ter pressa de tudo ou então ficamos querendo coisas iguais às que já tivemos em alguma fase da vida.

Se desejarmos ser realmente bons em alguma coisa e com outras pessoas, precisamos aprender a nos ouvir mais e a ser generosos e pacientes conosco. Não somos limitados, mas temos limitações. Temos uma história e crenças que nem sempre são fáceis de serem mudadas porque estão lá em nosso íntimo há anos e anos.

Alguns muros só podem ser derrubados se soubermos tirar os tijolinhos um a um.

Dê maior atenção às suas intuições e siga os sinais que virão.

Só o passado é seguro por ser imutável. Mas o futuro apesar de incerto, é uma promessa deslumbrante.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Animal Irracional?

Não nascemos prontos e estamos bem longe disso. Algumas coisas ainda causam tanta indignação que fico pensando se nossa raça merece mesmo ser chamada racional.

Imagino que a modernidade tem atingindo nosso cérebro e nossas atitudes condizem os pensamentos.

Um dia desses, recebi um vídeo dele – o querido –, que mostrava solidariedade entre dois macacos numa situação de condicionamento. Os dois eram submetidos ao mesmo teste, que consistia em encaixar a figura geométrica certa no espaço correspondente. Um dos macacos, o primeiro, encaixou o triângulo dentro do círculo e por fazer errado, não recebeu o prêmio. Em seguida, o outro macaco foi ao mesmo lugar e encaixou a peça certa e ao voltar ao seu lugar, recebeu como prêmio uma banana. O olhar do treinador acusava aquele que havia feito errado e ele, mesmo sem poder falar, expressou com o olhar a culpa assumida diante da acusação muda, porém não menos taxativa.

O amigo macaco, que havia recebido o prêmio por ter acertado, descasca a banana, parte ao meio e lhe estende a mão, entregando-lhe a outra metade.

É uma cena comovente e nos põe a pensar sobre uma série de coisas.

A competitividade de hoje, não permite espaços para erros graves ou pequenos enganos. Os olhares acusadores espetam como lanças. Ferem silenciosamente, pois também não é preciso dizer uma palavra ou mover um músculo sequer para condenar.
Quantas vezes já pudemos viver os dois lados? Temos o dia de acusador e o dia de condenado.

Estar na posição de acusador nos coloca certa vantagem e poder, como se fôssemos os donos da verdade absoluta, subtraindo do acusado o direito sequer de defender-se.

O acusado ao contrário, diante dessa situação, parece até diminuir, muitas vezes encolhe-se como se desejasse simplesmente tornar-se invisível.

Vejo essas situações repetidamente nos ambientes de trabalho. Um monte de gente agindo com irracionalidade, competindo pela banana e sem o mínimo de compaixão por aquele que muitas vezes chega a chamar de amigo.

Ter compaixão não significa, contudo ter de ser condescendente e cúmplice daquele que erra e sim tentar colocar-se no lugar dele, tentando entender a situação e o que o levou a cometer o erro.

Os fatores podem ser diversos: imaturidade, ansiedade, despreparo, medo, competitividade, dentre outros. Claro que também existem aqueles que o fazem por maldade, mas isso já é uma outra questão.

Os erros são grandes mestres do tempo. Fortalecem-nos e capacitam. Se a vida fosse fadada à perfeição, não teria sentido porque nos construímos todos os dias. Somos a soma de todas as nossas experiências boas ou ruins. Vivemos pouco tempo para cometermos todos os erros e precisamos então, aprender com os erros dos outros.

Ficamos pensando tempo demais no futuro mesmo sem saber se estaremos lá.

Hoje já é o futuro de ontem e se ousar fazer desse dia o melhor que puder, será bem mais agradável olhar para trás e quem sabe lembrar-se com alegria de quem dividiu a banana com você.


Mudança de Hábito

Há pouco mais de um mês troquei a rotina estressante do cotidiano de um hospital pelo tranqüilo quarto/escritório dentro de minha casa.

É aqui que tenho passado a maior parte das horas do dia, me dedicando à nova fase de aprendizado e encontro comigo mesma.

Tem sido uma experiência nova. Quebrar regras é uma delícia, principalmente quando a quebra está vinculada à construção de um sonho.

Quem dera que todas as pessoas pudessem entregar-se a um período sabático, ainda que dentro de suas casas.

Já li muitas histórias de empresários bem sucedidos, que entregues a uma rotina maçante de trabalho que poderia chegar a até vinte horas por dia, estendendo-se aos finais de semana inclusive, resolveram mudar de vida forçadamente após um ataque cardíaco ou outro motivo de saúde em situações de intenso estresse.

Eu preferi não esperar o extremo. Se fosse seguir a racionalidade, era provável que continuasse me forçando a fazer aquilo que vinha fazendo nos últimos vinte anos e talvez não sobrevivesse para contar minhas descobertas.

Por vezes ficamos tão condicionados e acomodados com aquilo tudo que acabamos por nos acostumarmos até com o que faz mal. Essa é a parte mais triste, a dor já nem incomoda mais.
Durante todos os anos em que trabalhei ajudando a salvar vidas, era obrigada a encarar a morte com frieza e como processo natural – como o é – sem me dar muitas vezes o direito de sofrer com aquilo. Vi morrer tanta gente em tantas situações, que mesmo o que para muitos seria a pior das visões, para mim era apenas rotina.

Não mais me abalava com mortes violentas, nem com sofrimentos estendidos pelas doenças degenerativas e mutiladoras.

A sensação que eu tinha é que aquele poderia ser – e pode – o fim de qualquer um de nós, incluindo as pessoas que mais amamos.

Talvez o que nos leve a passar anos na mesma condição é a inconsciência de que a morte se aproxima a cada dia que passa, e que o tempo que temos já não é mais o que tínhamos.

Chegamos aos trinta e poucos anos pensando que ainda temos vinte, só porque a natureza nos beneficiou com uma aparência jovial.

Ficamos boa parte do tempo revivendo coisas da adolescência e cultuando-as, como se isso fosse garantia de que o tempo parasse para nós e que ele só é vilão na vida de outras pessoas.

Adiamos sonhos com a desculpa falsa e ilusória de fazer amanhã, a semana que vem, o ano que vem, como se tivéssemos absoluta certeza de estarmos vivos nos próximos minutos e nos dias subseqüentes.

Isso na verdade não tem a pretensão de ser outra crônica. É um desabafo.

Resolvi jogar tudo pro alto porque eu não agüentava mais ficar longe de mim. Cansei de fazer do trabalho uma obrigação para ter dinheiro e não ter o prazer de gastá-lo como gostaria.

Não estou, contudo dizendo que todos chutem seus empregos para viver de brisa, mesmo porque isso é impossível.

O que estou sugerindo é que repense sua vida. Se o que tem feito realmente tem valido os esforços. Se o seu trabalho tem alguma relação com o que você acredita ou se ele apenas é uma fonte de renda.

Se existe alternativa para ganhar a vida sem submeter-se à tortura da obrigação, faça!

A experiência que acumulei nesses anos todos, serviu para me dar base e abrir a visão para o que realmente é importante. Percebi que poderia começar de novo porque todos os dias nascem em branco.

O que você fez ontem, não importa. Já foi. É o dia que você não tem mais, é o tempo que já passou.

O que você fará hoje vai determinar seu ânimo para acordar amanhã, se você acordar. Isso não tem conotação de morbidez, ao contrário, é a vida convidando-nos ao não desperdício do tempo.

Mude. Vá fazer aquele curso que adiou por tanto tempo. Vá fazer aquela viagem que só conhece nas fotos dos outros.
Vá ao show daquele artista que você só ouviu nos seus CDs. Encontre sua vocação em outra profissão que lhe traga mais que dinheiro. Não admita que os outros lhe digam o que fazer.

Não subestime sua capacidade porque alguém lhe disse que não daria certo.

Quando eu era criança/adolescente, adorava as histórias da Coleção Vaga-lume e li quase todas. E hoje, escrevo minhas histórias para que alguém as leia e quem sabe, aprenda com elas.

Há dois dias, minha mãe ao ler as histórias que agora escrevo, me perguntou inocentemente:

- Como é escrever?

Sem titubear respondi:

- É mágico. As palavras gritam dentro da gente pedindo pra sair. As palavras não respeitam horário. Tem dias que eu preciso levantar no meio da noite e escrever o que me vem à mente no caderno que fica sob a cabeceira da cama, quando o sono não é mais forte, não hesito em sentar-me diante do computador.

O que mais me deixa feliz é ter encontrado uma maneira de dizer para mim principalmente, tudo aquilo que ficou guardado esses anos.

Claro que quem escreve, sempre espera que alguém por pouco que seja, aproveite das experiências relatadas de forma a descobrir-se também.

A literatura tem o papel de atingir a todos sem distinção. De fazer com que as pessoas entendam que em nossas limitações e aspirações somos todos semelhantes. Somos só humanos.

Temos medo, dúvida, incerteza. Sentimos alegria, choramos, ficamos gripados. É igual pra todo mundo.

O que importa é a maneira como se tira proveito do que em um primeiro instante possa ser ruim. E não faça do seu sofrimento um quadro de auto - piedade. Aprenda com ele.

Nem todo mundo nasceu gênio, além de não sermos perfeitos.

Reinvente sua maneira de ser. Redescubra pequenas alegrias todos os dias.

Seja grato. Capacite-se para ser ainda melhor naquilo que já é bom.

Não faça da sua vida um campo de batalhas. Não se multiplique para ser seu próprio adversário. Não alimente a raiva.

É provável que houvesse menos guerras territoriais se nossas guerras internas tivessem uma solução mais diplomática, assinando um acordo de paz com a gente mesmo.




quinta-feira, 13 de novembro de 2008

To realize a dream...


My chest will now explode!

I was thinking about life and death. May God’s create the same thing with same purpose?

I couldn’t think nothing else to say… just other mystery has included my questions and now, there’s no answer.

Some things are like a movie in my head.

A little child becomes a woman and learning to live by your own way.

Sometimes is hard, so is grateful yet.

To build some big dreams, we all need patience so much and comprehend the process since the start until the end.

Miracles will be possible, if you make your part.

There’s no miracle without a hard work.

You can make a great change in your life, even if everything seems like an eternal night.

You can choice to get ready when the sunrise coming. Or… just to be waiting, making nothing.

The great opportunities will be better and more intense when you have the knowledge.

Don’t spend your time just thinking.

You can realize!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Efeito Boomerang


A pele está intacta. Nenhuma ferida exposta, nenhum hematoma, nem fratura.

Dor às vezes tem outra conotação além de lesões corporais. Tem gente que fere a gente sem se dar conta de que faz isso.

As relações humanas estão cheias de inverdades. Falar que estão cheias de mentiras parece superficial e obsoleto. A inverdade parece estar mais vinculada aos disfarces e máscaras que algumas pessoas usam para estarem diante da gente. E como representam bem!

São capazes de abraçar sua causa, de chorar contigo e jurar – com os dedos cruzados - que você é importante na vida delas.

Indubitavelmente há gente que se importa com a gente sim. E se importar não tem nada a ver com falar só aquilo que queremos ouvir. Quem se importa de verdade, expõe a realidade, ainda que num primeiro instante choque.

Pior é aquele que ensaia falar a verdade – que não é verdade – e ainda, se sente vitimado por um problema que também foi causado por ele.

Tem gente que engana aos outros e tenta enganar-se a si mesmo.

Estou sentindo dor osmótica. A ferida não se abriu em mim, mas é como se fosse.

Infelizmente, sinceridade é disciplina em que muitos faltaram à aula.
Tem gente que arremessa o boomerang pensando que ele vá atingir um alvo, mas não se lembra que ele sempre volta, cedo ou tarde.

Tomara que quando voltar, o arremessador não esteja de costas.

Neurose


O mundo está mesmo do avesso. Ninguém mais tem controle de nada ainda que tente controlar tudo.

Escravos do relógio e de um milhão de tarefas quase impossíveis de serem cumpridas no prazo estabelecido.

Foi-se o tempo em que se tinha tempo pra uns minutos a mais de preguiça na cama ou no corredor que separa sua mesa de trabalho da mesa do seu amigo onde há algum tempo atrás falavam amenidades, contavam piadas, só pra descontrair um pouco.

Certamente você também usa aquela uma hora de merecido intervalo que ainda é chamada de hora de almoço, para engolir qualquer coisa em menos de quinze minutos e usar os outros quarenta e cinco para cumprir tarefas de cunho particular, impossíveis de fazer em horário de trabalho e depois do horário comercial.

E na sua mesa acumulam-se metas e cobranças. O telefone não dá trégua e sua impressora enguiça bem na hora de entregar aquele relatório.

Se o colega ao lado não mencionasse que tinha de comparecer à reunião na escola dos filhos no final da tarde, sequer você se lembraria da reunião com o pessoal da reengenharia de custos, o que poderia lhe custar o pescoço e o emprego.

Lá pela quarta-feira você já espera ansiosamente a sexta e os ponteiros do relógio parecem amarrados com cabo de aço. Pede a Deus para que o tempo passe depressa, pelo menos o final de semana vai lhe trazer uns instantes de paz.

Quase no final do expediente, em sua caixa de e-mail chega uma mensagem do setor da produção. Aquela mercadoria de milhares de reais não será entregue no prazo prometido e aí, lá vai você enfrentar o cliente do qual o negócio depende diretamente do cumprimento do prazo prometido por você, já esperando que a conversa não seja das mais divertidas. O cliente sempre continuará a ter razão.

Até que enfim é hora de ir pra casa. Ah o descanso esperado. Um bom banho, minutos de relaxamento em frente à TV.

Antes de apanhar o carro no estacionamento percebe que o céu foi generoso e mandou uma chuva daquelas pra amenizar o clima seco.

Se fosse só isso...

O trajeto até sua residência demora em média vinte minutos, sem trânsito. Aliás, você já nem se lembra quanto tempo faz que não chega em sua casa em vinte minutos. Quando olha a sua volta, parado em uma fila imensa esperando o semáforo cumprir sua missão, percebe que os carros ao seu redor se multiplicam. Não se sabe onde começa e onde termina. Tem sempre o apressadinho que mete a mão na buzina. Tem aquele que canta desvairadamente e parece nem se importar. O casal que briga e a mãe que tenta controlar os três filhos no banco de trás.

Qualquer tentativa de mudar de faixa gera um transtorno. Os corredores entupidos de motos, que por sua vez também ressoam suas buzinas pedindo para desobstruírem a passagem que lhes pertence. Pertence?

É o fim do mundo! E você novamente lembra-se Dele:

Ah meu Deus... Deus? Deus?

Mais de meia hora parado... Cansaço, chuva, gente maluca... Barulho!

Acho que Ele não ouve mais.

Se ao menos parassem de buzinar...

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Drifter Soul

When your soul are lost
Walking without direction
Should to return and make real
All the wishes in your imagination

Trying to discover alone
The same old mysteries
Looking for someone like you
To save your life full of miseries

Another time, the same places
Another people are looking for

The sunrise will coming soon
To light up their lives stage

Trust in yourself, forget your pain
And even if you feeling insecure
You could to find another reason
To learn laugh and start again


Sorte Não, Perseverança

03h23min. Horário brasileiro de verão.

Outra noite daquelas em que elas – as palavras - me obrigam a estar aqui diante do computador. Ficam gritando em minha cabeça o tempo inteiro até que eu me renda, e cá estou.

Ontem à noite estivemos em um shopping na cidade vizinha à que moramos. Estávamos passeando num dos corredores em que havia um quiosque especializado em jogos de cartas, principalmente pôquer - sim, antes que você me pergunte, essa frase possui um sujeito oculto que será revelado mais adiante.

Meu conhecimento sobre pôquer é idêntico ao que sei sobre mandarim, nulo.

A questão na verdade não é essa. Esses jogos praticados inclusive profissionalmente, têm muito mais a ensinar do que possamos imaginar. Mexem demais com a inteligência e é necessário ter raciocínio rápido e lógico, além de exercitar a previsibilidade.

O fato de não jogar pôquer não me aflige. Conheço outros jogos. Claro que em minha concepção talvez menos complexos, mas conheço. Amadoramente pratiquei alguns em momentos de lazer em família.

A minha ida ao shopping teve a princípio um propósito real: comprar um livro pelo qual me apaixonei desde ter lido a sinopse, e mal sabia eu que iria descobrir tantas coisas, que sozinha, ou melhor, sem estar na companhia de quem me abrira os olhos para os detalhes mais importantes, sequer ousaria imaginar.

Ao chegar a minha casa então, fiquei pensando sobre o simbolismo que envolve os jogos. E não poderia deixar de citar o que hoje ele – o querido, sujeito oculto da frase acima citada - mostrou-me de perto: os baralhos usados nos cassinos, as fichas de apostas e tudo o mais que envolvia a arte de jogar pôquer. Mas, por puro desconhecimento o jogo de cartas que vou usar como exemplo é o buraco, que pelo menos ainda me lembro, embora também não jogue há anos.

Quando eu era mais jovem, costumava passar uns dias de férias na casa da minha avó materna. Uma de minhas primas morava na mesma casa e me ensinou a jogar buraco. Durante o tempo que eu ficava lá, jogávamos todas as noites e eu nem sempre tinha a sorte de “bater” ao final da partida. E detestava perder. Aliás, não conheci até hoje ninguém que dissesse o contrário.

Com o passar do tempo, fui percebendo que não podia mudar a situação no momento em que recebia as cartas. Às vezes eu dava sorte e recebia seqüências quase inteiras, e era mais fácil. Mas às vezes, “morria” com um monte de cartas na mão porque não tinha como usá-las nem com ajuda de um coringa sequer.

Com a malícia que fui adquirindo na prática contínua, consegui muitas vezes reverter o quadro, começando com cartas muito ruins e com o andamento da partida a situação tornava-se favorável, até que muitas vezes vencia.

Questão de habilidade e raciocínio que só a prática possibilita desenvolver.

Quantas vezes iniciamos etapas na vida com cartas ruins? Muitas.

Algumas dessas situações demoram um tempo razoável pra passar, quase fazendo com que abandonemos a partida porque a seqüência parece que nunca vai melhorar.
Talvez eu nem consiga contar quantas vezes isso já me aconteceu e por vezes eu não soube esperar e desisti.

Tudo é questão de adquirir habilidade exercitando a paciência para transformar em êxito o jogo que começou com todas as perspectivas de terminar em fracasso.

Só o tempo é capaz de sedimentar em nós a capacidade para esperar o momento de revelar as cartas. E se perder uma partida, jogue a segunda, a terceira, não desista.

Se não pode trocar as cartas, o melhor a fazer é pensar a maneira mais inteligente de jogar.

Também não importa a categoria e muito menos o que está em jogo.

Ganhar ou perder dependerá muito mais da calma e planejamento para reverter um momento ruim, do que da sorte lançada meramente ao acaso, se é que ele existe.





sábado, 8 de novembro de 2008

Robin Hood, de novo

Talvez o meu espírito seja menos politizado que futebolístico. Mas resolvi expressar nessas linhas a expectativa de uma cidadã do mundo diante dos acontecimentos dos últimos meses.

Já que o direito da livre expressão me é garantido, lá vou eu.

Algumas nações na última década vêm quebrando paradigmas quanto à eleição de seus representantes diante do mundo.

A eleição do presidente Lula no Brasil, é a mais forte expressão da crença popular na história de Robin Hood. Não que o governo esteja tão ruim, mas vai longe da realidade de que seria limpo como ele pregou durante todo o tempo de militante do partido fundado por ele na década de oitenta. Deixo claro aqui que meu posicionamento político é o oposto do presidente, portanto minha consideração é meramente comparativa.

Agora, lá vem Obama. O planeta inteiro esperava a decisão dessa disputa eleitoral nos EUA.

A Casa Branca agora recebe um afro-descendente, idealista e que grita aos quatro ventos: YES, WE CAN!

Sim, nós podemos! Todos podem!

Salvo o conservadorismo ao qual ele se diz fiel, será que a idéia de inserir mudanças não é um tanto contraditória?

Tenho minhas dúvidas quanto às expectativas depositadas no tal homem. Na noite em que ele foi declarado o presidente eleito, confesso que até eu fiquei feliz com a coragem de o povo americano abraçar um modelo diferente do que vinha sendo praticado ao longo de anos e anos de história. Obama veio para inaugurar novas estatísticas e quem sabe presentear aqueles que já estavam descrentes com alguma fagulha de esperança.

Ora, se a crise é mundial, não vejo razão para atribuir a um único homem, ainda que seja o presidente do país mais importante do mundo, a responsabilidade de consertar tudo o que está estragado. Ou será que estão pensando que só porque ele veio de um clã menos favorecido, agora ele vai ser Robin Hood também? Só para preservar a identidade de bom moço, não acredito.

Precisamos todos ter a consciência que bondade não tem nada a ver com coerência.

Precisamos acreditar em mudanças sim e lutar para que elas aconteçam, mas não rotulá-lo com o estigma de “SALVADOR DAS PÁTRIAS”.


quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Um Dia de Feijão

Quando você era criança, certamente sua professora um dia sugeriu que plantasse feijão no algodão.

Eu fiz isso mais de uma vez.

Lembro que minha mãe me cedia um copo de vidro, porque era necessário observar as raízes depois, e lá ia eu, colocar o feijãozinho no algodão embebido em água.

Processo lento. Queria ver logo brotar, mas levava cerca de três dias até que o feijão inchasse, rompesse a casca e então despontasse à luz a primeira ponta do broto.

E durante o tempo que seguia depois do brotamento, ficava anotando diariamente as transformações da planta sem deixar que o algodão secasse.

Ao final de alguns dias, não sei precisar exatamente quantos, aquele feijão tornara-se uma plantinha com muitas folhas e caule flexível, porém, dispensável, pois já havia cumprido sua missão, uma vez que não é possível devido à deficiência de nutrientes, fazer com que surjam as vagens carregadas de outras sementes que então nos servem de alimento.

Lembro-me que ao final do experimento, o destino da plantinha era ser descartada no lixo.

Diante de alguns acontecimentos atuais, inevitavelmente sentimo-nos feito o tal broto de feijão.

Muitas vezes ocupamos lugares na vida de algumas pessoas que durará tempo suficiente apenas para que extraiam de nós o que precisam e que são incapazes de realizar sozinhas.

Certa vez, escrevi que ser semente também dói, porque as transformações que ocorrem durante a maturação até que o broto surja, são permanentes.

Felizmente em nosso caso, a natureza sóbria e sábia, permite que possamos administrar bem a dor da transformação para que sigamos adiante, embora muitas vezes nos sintamos tão descartáveis como o pé de feijão improdutivo.

O bom da vida é que tudo é cíclico e ao contrário do que acontecia com o feijão, nós normalmente temos companhia para compartilhar os momentos em que nos sentimos assim, descartáveis.

A lei agora é reciclar, deixemos então que a vida siga seu curso.

Nada é permanente. E por mais que seja difícil experimentar ser lançado como algo descartável e improdutivo, a raiz ainda existe, e estando viva, poderá se fixar em lugares muito mais firmes e nutritivos que um chumaço de algodão molhado.


segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Seqüestro de Estimação


Há essa hora muita gente está em cativeiros, submetida à vigia constante de olhos que nem sequer piscam para não correr o risco de perderem a vítima.

Talvez estejamos todos condenados à prisão.

Somos vítimas muitas vezes, mas também seqüestramos.

É claro que eu jamais vou assumir a hipótese de me igualar a um criminoso daqueles que comentem crimes hediondos, mas determinados tipos de cárcere são piores que a privação da liberdade de ir e vir.

Tem gente que aprisiona com armas invisíveis e a vítima fica tão submetida à ausência da liberdade, como aquelas presas em cativeiros cheios de umidade, ratos e comida escassa.

O pior tipo de seqüestro é aquele que acomete a alma, a vontade e a necessidade de ser indivíduo.

Alguns relacionamentos são alicerçados em contratos legais e invisíveis ao mesmo tempo. O contrato legal deixa explícitos seus deveres e direitos civís perante a outra parte, mas aquilo que não está escrito no papel e se fundamenta em atitudes e palavra é bem pior, porque muitas vezes o prisioneiro não enxerga os cadeados ou mesmo que possa vê-los, sequer imagina onde estejam as chaves.

As formas de tortura variam e nem sempre fazem parte delas as agressões puramente físicas: invasão de privacidade, isolamento, ciúme, posse, competição, inveja, omissão, mentira, desprezo, traição, dentre outras atrocidades morais.

Tem gente que acredita que possa tratar outra pessoa como bicho de estimação. É capaz de dar um tratamento diferenciado: casa, boa comida, boa cama, algum presentinho e um afago na cabeça aprovando o bom comportamento.

O olhar expressa: obedeça-me para ser respeitado, ou melhor, poupado.

Não ouse olhar o seu “dono” com olhos pidões. Ele vai te bater o pé e não vai te deixar dar uma voltinha sozinha (o) na rua. Nem adianta ronronar, abanar o rabo e rolar no chão.

Eu tolero seus “pitís”, mas não vou com você ao shopping.

Eu posso beber com meus amigos porque eles são legais, mas na casa dos seus não vou.

Vou passar uns dias na casa da mamãe, mas espero que a sua demore uns seis meses para voltar aqui.


E se você se comportar como tem feito, prometo que no Natal te darei de presente uma coleira nova, de alguns quilates, porque embora você não perceba,faço TUDO (?) pra você ser feliz e saber que me pertence.


Peso Pesado

Ego é um bicho traiçoeiro. É aquela parte desconhecida em nós mesmos que se mostra feroz quando ameaçado. É a cadeira elétrica que espera quietinha queimar os miolos de quem sentar nela.

Tem situações na vida que parecem mesmo o corredor da morte e você nem sabe.

Alguém já se encarregou da tua condenação e você inocente dorme o sono dos justos sem nem saber por que se tornou prisioneiro.

Acho incrível a capacidade humana de realizar manobras e inverter situações que isentem da culpa em determinadas atitudes.

Culpa tem peso de elefante. Imagine carregar isso nas costas por tempo indeterminado como deve ser difícil.

Por isso há tanta gente infeliz, sorrindo de medo e insegurança.

Fica procurando em outras situações a isenção da própria culpa apontando erros que nem existem.

A exemplo do que já aconteceu com tanta gente mundo a fora, existe uma fogueira embaixo dos pés de quem expressa o que pensa. Oras, onde estamos?

Infelizmente o ego usa mecanismos mesquinhos e auto defensores para nos proteger das ameaças.

Normalmente eu vou te culpar por algo que eu mesmo fiz, mas não tenho coragem de assumir. Se eu assumir, vou atribuir a mim a responsabilidade do fato e então terei de me desculpar podendo ficar submetido ao seu perdão. Se isso não acontecer, vou ficar com o elefante da culpa nas minhas costas até quando? Talvez eu não tenha força para carregá-lo e todas as vezes que eu olhar pra ele inevitavelmente eu vou ter de me lembrar do fato que o colocou em cima de mim. Não. Vou culpar você. E te condeno a carregar o elefante.

Todas as pessoas irão te ver carregando esse bicho enquanto eu fico livre dos dois: de você e do elefante.

Enquanto você alimentar o elefante, eu não corro o risco de ele ir atrás de mim.

E tudo vai ficar bem. Enquanto você carrega o peso da culpa por mim, eu faço tudo outra vez e quem sabe eu passe a criar elefantes, já que eu tenho o hábito de não assumir a responsabilidade pelos meus infortúnios.

Aproveitando a ocasião, deixo um pedido extra e tenho a certeza de que não se negará a atender, pois posso ficar mais chateado e dobrar o peso da culpa:


Se você souber de alguém que estiver doando um casal de elefantes, diga que eu tenho interesse em cuidar deles, mas traga-os até mim, você já está carregando um mesmo e hoje eu acordei com uma dor nas costas...




domingo, 2 de novembro de 2008

Eu Disse Sim



Eu tinha lápis e cadernos. Ainda os tenho. Uso esporadicamente quando ao acordar no meio da noite ou estando longe de casa, fico possuída pelas palavras e impossibilitada de estar diante do computador.

Há pessoas que fazem tudo por qualquer coisa. Não chego a extremos, mas faço na medida do possível o suficiente para tornar o que penso palpável e passível de atingir o alvo certeiro em meu interior.

Porque escrever me traz alivio imediato para as inquietações. Como naqueles dias de muito calor que são abraçados por uma chuva torrencial ao entardecer.

O vapor do chão quente se espalha e leva para todos os lugares aquele chamado “cheiro de chuva”, e a sensação permanece até que fique tudo sequinho novamente.

Os escritores que costumo ler, normalmente relatam suas experiências literárias às suas vivências particulares. Por isso amo os contistas, cronistas e poetas. Não há isenção de realidade nesses textos.

E por tanta admiração - por que não dom - tenha escolhido enveredar-me por esse caminho.

Coisa de criança que diz:

- Quando eu crescer quero ser igual!

Já desejei ser e fiz tantas outras coisas na vida.

A decisão pela literatura veio há pouco tempo, embora já escreva há muito.

Notei que meus textos, ainda que antigos, provocavam-me ainda indagações permanentes a respeito da vida, principalmente da minha.

Não seria justo aprisionar minhas idéias - ainda que não revolucionárias ou anarquistas – somente para mim, uma vez que despertar outros pontos de vista seja saudável e uma escada invisível e ascendente rumo a um jeito de viver melhor.

Embora muitas vezes precisemos fazer escolhas sem pestanejar, sem ter a plena consciência de suas conseqüências, quando dizemos “sim” ou “não” para alguma questão que nos é importante, nossa escolha a princípio assertiva é envolta em vários “talvez”.

O talvez nos desperta a sensação confortável de permissão para pensar mais um pouco a respeito. Porém, a linha entre permissão e comodismo é muito tênue.

Nem as figuras mais geniais da humanidade tiveram certeza de suas decisões todo o tempo e digo sem medo de errar, seus dias não foram todos gloriosos.

Somos humanos felizmente e sempre vai haver aquele dia que você deseja ficar em casa de pijama. Aproveite então para contemplar suas limitações, para ter paciência consigo. Só consegue ser compreensivo com os outros quando existe compaixão com você mesmo.

Tudo na vida é tentativa. Às vezes promove sucesso, outras o indigesto fracasso.

Mal sabia eu que os anos me fariam saber (e adorar) lidar com essa coisa (computador) que mostra automaticamente o que eu penso numa tela com janela para o mundo.

Mal sabia eu que meus lápis e meus cadernos com antigos manuscritos, hoje podem ser a possibilidade de no futuro quem sabe, saírem das gavetas para os museus.

Anunciando ao mesmo mundo que me lê em telas de computador, que essa mulher que agora conta sua história, um dia escolheu apenas dizer SIM a si mesma.









sábado, 1 de novembro de 2008

Futuro do Pretérito

Deveria ter feito, protelou.

Poderia ter dito, calou-se.

Evitaria o mal entendido, prosseguiu.

Mandaria buscar, esperou.

E se continuasse listando, continuaria (continuo) conjugando verbos no futuro do pretérito.

Regras gramaticais estão mais que presentes em nosso cotidiano, sinalizando nossas fases de êxito e fracasso.

A vida parece um novelo de lã no balaio das avós. Enquanto parece bolinha e a ponta se desenrola conforme a necessidade durante o tecer em tricô de algo simples feito cachecol, tudo vai bem. Quando em um momento de distração, um ponto ou laçada errada faz com que o trabalho empregado no tecer até ali seja inutilizado, precisando desmanchar, é necessário ter a coragem para começar de novo. Acontece que muitas vezes ao desmanchar, a pressa ao puxar o fio de lã, mistura as pontas e já nem se sabe onde começa ou termina.

Haja paciência para reorganizar. E quantos nós... Das duas uma: cortam-se os nós e o pedaço embaraçado, emendando-se um pedaço inteiro com outro nó (o problema continua lá) ou pacientemente espera-se alguém que tenha unhas compridas chegar para desfazê-lo, a menos que a pressa seja tanta que prefira usar os dentes (quem já não fez isso?).

E nessa expectativa de encontrar solução para o problema em questão, você se encontra tentando subir pela escada rolante que desce. Os esforços são aparentemente inúteis e o sofrimento se estende.

Infeliz ou felizmente não se aprende a viver consultando manuais de instrução. Hoje em dia teorizaram muito tudo ou quase tudo. Ensina-se a conceber, a criar filhos, a ser mais humano, a ser melhor patrão ou colaborador (o termo empregado é muito tirano).

Cada vez mais cobra-se muito e fica-se esperando resposta. A liberdade é ilusória ou então preciso rever meus conceitos.

Não escrevo para que critiquem ou elogiem meus textos. Escrevo porque essas coisas me intrigam e eu preciso compartilhar. Escrever para mim também é maneira de me calar.

Enquanto fico aqui sentada imaginando o motivo da briga de família que já virou rotina na casa em frente à minha janela, ressoando os gritos de acusações diversas para quem quiser e não quiser ouvir, ao mesmo tempo tento resolver meus nós e organizar meu campo de batalha interior.

A verdade é uma só: conjugação verbal pode dar sentido e direção quando as coisas todas parecem nós insolúveis: só se aprende fazer, fazendo.

Aprenda a viver, vivendo!

A experiência prática tem muito mais valor que qualquer manual impresso em “offset”.