quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Memória




Lembro-me com saudade do tempo da escola. Pela minha precocidade em muitas coisas, meus pais se orgulhavam quando recebiam minha carteirinha escolar recheada de notas azuis. Tinham realmente uma filha inteligente.

Aprendi a ler e a escrever muito cedo, mais cedo que a maioria das outras crianças, mas com o passar do tempo, fui tomando ainda mais gosto pelos livros e talvez por acreditar que a vida pudesse ser um conto daqueles que eu amava ler, acabei deixando o principal para depois.

Já na fase do colégio e mais tarde na faculdade, percebi que não era aquela excelência que meus pais sempre acreditaram. Continuava exemplar naquilo que me completava, mas não passava de medíocre naquilo que era essencial, mas assim eu não o via.

Os anos seguiram e meus professores às vezes impacientemente esperavam minha reação. Matemática sempre foi o meu calo mais dolorido e todas as suas adjacências como física, química, estatística e afins. Não foram poucos os apuros e tropeços.

Contudo sobrevivi aos dissabores e continuo aqui contando histórias.

Ah, como gosto delas!

Como me fascinam os livros de gente que parece ter vivido fábulas -verdadeiras -, gente que encara os desafios sem medo de dar um passo à frente, mesmo estando de olhos vendados.

As pessoas não entendem na maioria das vezes a minha indiferença à TV. Explico: não gosto de imagens prontas, gosto de criá-las segundo o que vejo e o que vejo nunca está de fora para dentro, mas faz o caminho inverso.

É um parto ao contrário. Primeiro eu vejo,depois gesto aquilo vi e transformo em palavras à minha maneira como quero que seja.

Quem escreve, o faz pelo simples fato de não ser como a maioria. Tudo, simplesmente tudo se transforma em palavras. Talvez porque passamos muito tempo em silêncio contemplando as palavras de alguém. Ou ainda, mergulhados dentro de nós mesmos traduzindo sentimentos inefáveis de um modo que se façam entender. Escrevemos as lágrimas e os risos, os desesperos e as glórias, o nascimento e o luto.


Cada um de nós sob um prisma, segundo as próprias convicções.

Peço a Deus a graça de ter sempre memória. Para dissertar sobre o que vivi de maneira a enriquecer outros viveres. E, se por acaso, essa habilidade me for furtada, que eu consiga ao menos lembrar a matemática deficiente fixada em minha mente: que me ensinou a somar amigos e amores dividindo com eles tudo o que existe e resiste em mim.