domingo, 31 de maio de 2009

Feliz Vida Nova


Trilhava o mesmo caminho que outrora parecia longo, porém curto. Já não mais ostentava a avidez por novidades, mas saboreava os acontecimentos.

Rasgara ao longo do dia seus arquivos pessoais, engavetados por muitos anos – mais de vinte – porém, antes os leu um a um.

Reviveu emoções, chorou outra vez. E outra e outra. Aquelas páginas que já haviam sido viradas continham nas entrelinhas muito daquela que ela ainda escrevia e lia. Chorou de novo.

Algumas situações lhe eram velhas conhecidas, quase nada havia mudado em tanto tempo. Outras, porém, a surpreendiam pela racionalidade com que interpretava e com a calma que havia adquirido depois de tanto se consumir em ansiedade e pressa.

Descartava dentro dos sacos de lixo, os pedaços de sua própria história, e aquelas porções de tecidos e papéis que foram roupas e cadernos, não significavam nada além de um monte de coisas inúteis que desejava fazer desaparecer como em um passe de mágica.

Cada item que jogava fora era como se esvaziasse dentro de si um espaço que estava cheio de memórias empoeiradas e ruídas. Como se aquele gesto fosse um grito de socorro para reconstruir-se.

Sentia alívio e angústia. Sentia distância e saudade. Um misto de emoções inexplicáveis e ambíguas, todas ao mesmo tempo, intensas.

Aquele cenário havia sido seu um dia, hoje já não se parecia com nada dela.

Sentia um desconcerto diante das paredes e até da arte que havia criado.

O tempo havia passado impiedosamente e sem que ela percebesse, prendeu sua alma em algum lugar desses vinte anos.

Sem medir conseqüências, cortou as correntes e libertou sua alma da prisão. Deixou que a luz do dia invadisse a fresta tímida entre as partes da janela, decidiu recomeçar.

Não mais quis olhar todo aquele lixo, que não era pouco. Não hesitou em colocar seu passado em sacos negros e trancá-lo lá de uma vez por todas e manda-lo para bem longe, em um lugar onde ela nunca mais poderá acessar.

Guardou pequenas coisas, cheias de significado. Pareciam curativos para as feridas que ela mesma abriu.

Naquele dia tudo tinha de sangrar e doer, porque assim já estava e curaria tudo de uma só vez.

O banho só veio completar a limpeza que havia feito, antes de tudo em si mesma.

Regou seu vasinho de violetas e conversou com elas.

Era o último dia do mês.
Colocara-se em um propósito de nascer novamente no dia seguinte, que não coincidentemente seria o primeiro.

E dali por diante todos os dias seriam os primeiros, únicos.

Ninguém mais seria tão importante em sua vida quanto ela mesma.

Acordou na manhã seguinte com uma energia ímpar e antes de tudo, foi até o espelho e olhando-se nos olhos desejou fervorosamente:

- Feliz dia novo! Feliz vida nova!

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Por Sobre as Nuvens



A oscilação da temperatura anuncia que em breve o inverno chegará. Do lado de fora da janela, observo as árvores com as copas quase nuas, as poucas folhas que restam secas e aparentemente sem vida, denunciam o período que antecede à renovação.

Dentre as espécies nas quais as folhas resistem, sem a beleza habitual, é usual ainda a prática da poda dos galhos no período de final de outono e começo de inverno. Parece um tanto agressivo, mas, é profundamente benéfico.

A finalidade da poda de forma geral é a melhoria das condições de vida das plantas, melhorando a entrada de luz, eliminando pragas, fortalecendo, rejuvenescendo e muitas vezes reeducando o crescimento dos novos galhos.

Infelizmente nossa impaciência e urgência na busca de todas as respostas inclusive das perguntas que sequer foram feitas, não nos permite contemplar a semelhança que existe entre a vida vegetal e a vida humana.

Somos feito às plantas e a vida nos presenteia com muitos jardineiros encarregados das podas e, esses nem sempre se atentam à estação correta para realizarem o trabalho. Nem sempre é feita com a ferramenta adequada, nem sempre corta os galhos certos, nem sempre é indolor- na maioria das vezes é quase insuportável- e nem sempre temos discernimento para entender os reais motivos.

Quando tudo parece perfeito – ou quase-, lá vem o jardineiro e poda um galho importante: a perda do emprego, uma doença grave, um acidente, o fim de um relacionamento, a morte física de alguém importante, a distância física entre quem amamos e nós, uma separação temporária ou definitiva, e poderia ainda citar muitas outras situações das quais ninguém de nós conscientemente escolhe ou deseja viver.

Viver, por si já nos impõe situações em que as podas são constantes, senão diárias. E o resultado delas, são as cicatrizes que nos fortalecem e, sobre o tempo, aquilo que os sábios chamam de experiência.

No momento da poda é muito difícil ter frieza para fazer a pergunta certa que não é “por quê?” e sim “o que preciso aprender com isso?”.

São incontáveis as podas que já sofri... Também incontáveis aquelas que já executei por vontade, instinto ou “acaso”.

Posso dizer que na última grande poda que sofri, o que me foi arrancado doeu tanto que parecia não haver remédio, cura, nem que fosse cicatrizar.

O tempo passou e hoje, entretanto vejo que foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido. As cicatrizes são invisíveis, aprendi que beleza e juventude nada têm a ver com cronologia e sim com estado de espírito que por sua vez, depende muito mais de decisão e atitude, que meramente do acaso.

Aproveite todas as ocasiões que o céu virar de cabeça para baixo e mantenha-o sob seus pés o máximo de tempo que puder.

Passada a tempestade você experimentará a delícia de caminhar por sobre as nuvens.

domingo, 10 de maio de 2009

Reflexão

Há muito tempo venho imaginando algo que a meu ver era inominável. Porque se confunde com tantos outros sentidos e ao mesmo tempo é único.

Tão difícil falar do que não é palpável, mas ao mesmo tempo tão visível.

Estrutura sólida alicerçada em fiel lealdade. Cumplicidade que dispensa palavras escritas ou faladas.

Emerge da profundidade do ser tão rápido quanto a velocidade da luz e não há como deter, pois tem vontade própria.

Pinta o mundo de arco-íris e traz sol e calor aos dias mais sombrios.

É música tranqüilizante com refrão impregnado de felicidade.

Torna inesquecíveis momentos corriqueiros e imperecíveis os grandes acontecimentos.

Perfuma o ar por onde passa com um aroma inconfundível.

Permite que olhares se tornem imantados e faz parecer eternidade um único minuto de afastamento.

Engrandece as virtudes, ignora as desventuras e defeitos.

Cumpre todos os deveres e não faz guerra pelos direitos.

Talvez seja uma receita que muitos chamam de bem-viver.

A tudo isso que emana de mim, dou o nome de AMOR!

domingo, 3 de maio de 2009

Querer é Poder


Algo morreu em mim. Sim, todos os dias isso acontece. E a morte de algo nem sempre é motivo para lamentação.

É hora de deixar o velho ir para ceder lugar ao novo. Algumas decisões por mais difíceis que sejam não podem ser adiadas ou odiadas, tampouco conter alguma dose de culpa.

O sempre e o nunca são tempos adverbiais inaplicáveis. Aquilo que sempre desejamos uma hora torna-se dispensável e aquilo que nunca queríamos passa a ser uma nova possibilidade.

A consciência luta com a inconsciência onde o grito de uma é abafado pela ação silenciosa da outra.

Somos uma identidade mutante, tão cíclicos como os ciclos lunares, hora cheios de luminosidade e brilho e hora imersos na total escuridão, quem sabe em momento de eclipse.

Somos ao mesmo tempo juízes e réus, submetidos a julgamentos superficiais e, simultaneamente agindo da mesma forma.

Tornamos-nos especialistas em reclamar e o horizonte mais próximo fica logo abaixo das nossas costelas: o próprio umbigo.

Agora que o mundo vive o caos, a maioria das pessoas fala em sustentabilidade, em meio-ambiente, em preservação dos animais e cuidados com a água, mas, em suas casas as latas de lixo estão umas bagunças porque ninguém recicla nada, nem a si mesmo.

A zona de conforto nunca esteve tão em moda. E olha que freqüentar zona era considerado um pecado, mas dessa nunca se falou nada.

Eu decidi que o lugar mais bonito para ver a vida acontecer não é o meu confortável sofá.

Não tenho a pretensão de querer acabar com as guerras e a fome do mundo. Mal consigo dominar meus conflitos interiores e lidar com a administração do meu armário vazio.

Também não sou nenhuma reacionária contemporânea que prega causas às quais não pratica.

Eu sou eu. E assim me apresento ao mundo: com todas as minhas virtudes e defeitos; com tudo o que desperta admiração e repulsa; solidária e egoísta; incondicional ou calculista.

O que estará em evidência vai depender do que você deseja ver, não em mim, mas em si mesmo.

As pessoas são para nós espelhos, onde refletimos o que está em nosso interior e não apenas a imagem exterior.

Recebemos aquilo que doamos, essa lei é infalível.

Para saber se está tudo bem, preste atenção àquilo que recebe e eu espero sinceramente que você receba mais sorrisos. Se isso não estiver acontecendo, mude! Sorria primeiro e inevitavelmente verá seu reflexo nos rostos ao seu redor. Experimente.

Os melhores acontecimentos precisam de grandes passos. É impossível saltar sobre um abismo com dois pulos pequenos.

Permita-se! Se eu pude, você também pode!