terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Cinderela Moderna



Quando criança toda menina pensa em viver um conto de fadas. Se fantasia de princesa, com direito a castelo, daqueles com ponte elevadiça sobre um córrego rente à construção. Tem um enorme jardim pelo qual passeia todas as tardes.

Lá ela leva sua vida feliz e tranqüila e sonha com seu dia de Cinderela. De preferência sem ter de passar pela fase de gata-borralheira. E fica imaginado qual será a cor do cavalo no qual seu príncipe encantado virá montado. E ao lhe pedir a mão, oferece um dote em ouro.

Mas às vezes a realidade é outra. Os anos passam e a menina cresce. Deixa nos contos de fadas uma parte dos seus sonhos.

Seu castelo não tem quintal nem ponte elevadiça e ela não passeia pelo grande jardim todas as tardes. Desenvolveu outras habilidades que também incluem as atividades da gata-borralheira, que para ela também se tornaram um prazer.

Dedica parte do seu tempo a querer o bem comum e a felicidade de outras pessoas que lhe sejam importantes.

Seu príncipe encantado não chega a cavalo, e a cor é o que menos lhe importa. O ouro do dote então, não tem qualquer relevância, pois o valor está no que ele é.

Mais importante que quaisquer dessas coisas é a preciosidade daquele sorriso que a faz feliz todas as vezes que o encontra.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Um passeio de barco...

5 de fevereiro, 1977.

Uma menininha com três anos e meio vestida de short azul e camiseta cor-de-rosa vem caminhando lentamente pelo corredor da casa de quatro cômodos e, ao parar na porta do quarto vê um aglomerado de gente em volta daquela cama e daquele que até ainda há pouco era seu berço.

Estava um pouco cansada. Queria deitar, mas aquele lugar que era seu já estava ocupado.
Mas como, se quando saiu para ir passar uns dias na casa de sua tia não tinha ninguém lá? Estranho...

Ah, mas foram dias divertidos. Aquela sua tia era para ela mais uma mãe. Fazia todas as suas vontades. Era a mais nova das crianças ali naquela casa.

Naquele dia levantaram-se cedo. Foram fazer um longo passeio. Correram, brincaram até a exaustão. Seus primos mais velhos não tinham lá muita paciência, mas ela nem ligava. Ficava atrás deles e se divertia como podia.

Quase ao final do dia, foram passear de barco. Ficou durante todo o passeio próximo à janela, sentada no colo de sua tia. Ela então lhe contou como quem lhe preparava o espírito, que a partir daquele dia, ao voltar pra casa, sua vida seria diferente. Que as coisas não seriam mais só dela, que ela teria de aprender a dividir.

Mas dividir o que? Lá eu tenho Meu pai, Minha mãe, Meus brinquedos... Pensou inocentemente.

Foi se chegando mais perto da cama, do berço... Espera... Quem é essa pessoa no Meu berço?

Sua mãe então, num movimento lento e cuidadoso, pegou o bebê do berço e o mostrou à menininha. Todos em volta, ficaram observando em silêncio aquela cena.

Soube naquele instante que nada mais seria como antes, só não sabia ainda se seria melhor ou pior. Não conseguia entender direito o que estava acontecendo.

Experimentou naquele dia pela primeira vez certa dor, se sentiu trocada.

Os anos se passaram e a dor também. Quase trinta e um anos depois do passeio de barco, lembra-se do instante em que viu pela primeira vez aquele bebê que amaria incondicionalmente pelo resto dos seus dias com uma intensidade que até então desconhecia.

Hoje, a menininha se transformou nesta mulher que lhes conta parte de sua história.E esta foi a forma que encontrei de render meu amor ao meu incomparável irmão, desde o dia em que ele veio abrilhantar minha vida.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Isso é Chinês, não Japonês!!!!



Detesto gente que atravessa a conversa só pra se enturmar ou pra escutar qual é o assunto. Sendo curta e grossa, detesto gente intrometida.
Uma amiga chegou de férias e teve de voltar ao trabalho com uns dias de antecedência por “livre e espontânea pressão”. Ontem, ao voltar do almoço tive a impressão de vê-la no corredor, mas como sabia que ela só voltaria segunda-feira, não me atentei para o fato de que era ela realmente.
No final da tarde de ontem, precisei falar no setor em que ela trabalha, pois meu computador apresentou um problema. Soube então que ela havia voltado de fato, mas estava em reunião.
Hoje ela veio me fazer uma visita. Fiquei feliz ao vê-la ótima e bem disposta. Descanso realmente faz bem às pessoas. Está com uma aparência bonita, até “pegou” uma corzinha.
Perguntou-me das novidades, do trabalho, do andamento da vida. E como mulher fala em média 20.000 palavras por dia e até aquele momento o nosso saldo estava acumulado, falamos até não poder mais, ou melhor, até termos sido interrompidas. Eu dizia a ela naquele momento que precisaríamos de no mínimo três dias pra contar todas as coisas. Mais que de pronto e como temos o mesmo apreço por comida japonesa, ela disse:
“Vamos ao japonês... a gente janta e põe o papo em dia”!
Concordei no mesmo instante. Porém, lá veio a pessoa que estava “passando por acaso ali” e disse:
“Gente, vamos sim, adoro restaurante japonês. Principalmente pra comer Frango Xadrez”!
Eu não sei o que me deu... Mas não tive escolha e respondi acidamente:
“Acho que o restaurante japonês que você freqüenta é MADE IN TAIWAN. Qualquer criança de três anos sabe que Frango Xadrez é comida chinesa!”
Ela sorriu sem graça e saiu. Mas aquilo me deixou louca. Mania de achar que tudo o que tem olho rasgado, fala enrolado e é comida oriental é japonês.
Só prá que ela não se confunda e não se convide mais, antes de sair deixei em cima da sua mesa um cardápio daquele tradicional “delivery” chinês na página do Frango Xadrez.
Sabe, aquele da caixinha?

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

" Nossa linda juventude, página de um livro bom..."



Está no dicionário:
Juventude: s.f. Parte da vida do homem entre a
infância e a idade viril: o brilho da juventude. / Estado de uma pessoa jovem. / As pessoas jovens: instruir a juventude. / Fig. Energia, vigor, viço: conservar a juventude do coração.

O IBGE define o jovem como aquele que se encontra na faixa entre os 15 e 24 anos. Já outros órgãos, como os ligados ao terceiro setor, preferem dar essa classificação às pessoas com idade entre 19 e 29 anos, separando-os dos adolescentes.

Há controvérsias. Juventude engloba toda uma condição, um estilo de vida, coisas que marcam o tempo, uma época inteira. O século XX está imortalizado pela velocidade e pela intensa transformação da juventude em cada década.

Os avós das pessoas nascidas entre as décadas de 60 e 70, bem provavelmente vieram da zona rural. Os que ainda vivem contam histórias sobre a guerra e as revoluções. Conheci alguns que serviram ao exército. Eu era criança e meu pai tinha um mercadinho numa vila. Lá alguns se reuniam e mostravam orgulhosos os fotos para as quais posaram fardados ao lado de algum amigo combatente ou ao lado dos carros que nem de longe são as máquinas de hoje. Casavam-se cedo. Mulheres com mais de dezoito anos e que ainda fossem solteiras já “ficavam faladas”, pior , estavam encalhadas.Tinham pouca ou nenhuma escolaridade e ser Doutor era um sonho, muitas vezes bem distante.

O meio de transporte era a bicicleta ou o bonde. Andavam a noite pelas ruas sem o risco de serem atropelados ou assassinados. O padeiro entregava o pão e leite na porta de casa e a garrafa do leite era de vidro. Na casa em que eu morei tinha uma dessas, brinquei com ela muito tempo. As mulheres eram criadas para serem donas de casa, não usavam calça comprida. Tinham em média 5 a 6 filhos e não ficavam deprimidas. Tinham de ser prendadas: saber cozinhar, lavar, passar, bordar. As pessoas tinham uma expectativa de vida não muito maior que 55/60 anos.

Os jovens tinham como lazer os piqueniques, e pequenas festividades mais familiares. Respeitavam dias santos. Brincavam o carnaval de forma singular. Cantavam marchinhas, freqüentavam matinês. Ir à praia era uma verdadeira viagem.

Vieram nossos pais. A maioria deles entre as décadas de 40 e 50. As transformações foram lentas, mas gradativas. Uma boa parte deles freqüentou a escola, mas não chegaram muito longe. Os homens eram incentivados até mesmo por necessidade a trabalharem muito cedo. Meu pai começou a trabalhar com doze anos. Trabalhavam muito mais que oito horas diárias e em virtude disso, não conseguiam conciliar com os estudos. Os pais obrigavam os filhos a trabalhar para ajudarem no sustento de casa, normalmente havia muitas bocas para alimentar. Não raro, abandonavam a escola antes de completar o primeiro grau.

Foi uma juventude marcada por grandes acontecimentos. Não tinham malícia. Eram tão inocentes que cultivaram vícios como cigarro e bebida e se condenariam anos mais tarde por isso. Viveram intensamente a época da explosão do Rock and Roll, com Elvis, Beatles e Woodstock. Passeavam de lambreta, usavam jaqueta de couro e o cabelo engomado. As moças eram mais femininas. Tinham cabelos longos, usavam vestidos, faziam penteados. Usavam bom-bril e laquê para sustentar os grandes “coques”. As mulheres já trabalhavam fora. Em “casa de família” ou nas fábricas.
Também faziam piqueniques. Em São Paulo, o “point” era o Pico do Jaraguá. Faziam bailinhos nas casas dos amigos. Freqüentavam os circos e parques de diversão, inclusive o namoro dos meus pais começou num deles. Tinham um romantismo que ficou perdido. Nessas ocasiões, ofereciam músicas para o seu par. Viram a revolução, o surgimento da TV em cores, festejaram o tricampeonato mundial de futebol do Brasil em 70. Viveram as atrocidades da ditadura. Casaram-se cedo, porém um pouco mais tarde que seus pais, a média de idade variava entre vinte e dois e vinte e cinco anos.

Eis que estamos aqui. Vivendo nossa juventude aos trinta e poucos anos. Contando a história dos nossos pais e avós e fazendo aquilo que talvez eles sonharam tanto. Há trinta ou quarenta anos atrás, as pessoas com nossa idade já eram senhores e senhoras. Hoje, não é incomum encontrarmos adolescentes beirando os quarenta anos. E isto é no mínimo fantástico.

Vivemos toda a intensidade da década de 80, tivemos ídolos que ainda conservamos. Brincamos na rua, vimos nascer o vídeo-game e o computador. Vivemos paixões na adolescência e depois dela sem a obrigação do casamento. Muitos de nós e de nossos amigos são doutores. Vimos o fim da ditadura, a volta da democracia, a reforma constitucional. Derrubamos um presidente. A AIDS nos tirou poetas. O trânsito mata mais que as guerras. Hoje vamos à praia como quem atravessa a rua.

A eterna juventude é uma busca intensa, interminável e muitas vezes obsessiva. Revolução na indústria cosmética, cirurgias plásticas, tinta no cabelo, malhação, culto ao corpo e à beleza. De repente você aparenta artificialmente que tem dez anos a menos.

Vejo jovens com mais de cinqüenta ou sessenta anos diariamente. Vivendo intensamente seu instante, abraçando a vida da forma que ela merece, sorrindo para ela, sem lamentar o que ficou para trás. Do mesmo modo, vejo idosos com menos de trinta ou quarenta anos, preocupados com o futuro que talvez nem chegue.

Independente do tempo em que se vive, juventude é comprovadamente estado de espírito. A cada ano vivido, a cada experiência adquirida, é questão de inteligência emocional inclusive, não pensar que se está ficando velho. Na minha concepção, e ao me olhar no espelho, vejo uma mulher com os mesmos sonhos da juventude, apenas acrescida de outras responsabilidades. Não sinto que estamos ficando velhos, mas que permaneceremos jovens por mais tempo. Simplesmente porque conservamos nosso gosto pela vida e o que virá depois de nós, cabe a cada um saber por si.





quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Pequeno Grande Milagre




Milagres acontecem a todo o momento. Basta prestarmos mais atenção aos pequenos detalhes, pois podem não ser tão grandiosos, mas ainda os pequenos têm um poder de transformação incrível.
Conheço uma mulher que me contou um pouco sobre a sua vida, e me revelou os pequenos grandes milagres que já recebeu.
Deve ter cerca de trinta e poucos anos. É uma mulher bonita, com ar de menina, coração adolescente. Vive os dias com tanta intensidade como se não fosse acordar amanhã. Agradece a Deus todo o tempo por todas as coisas que possui. Não é perfeita. Também se aborrece, fala mal de quem julga merecer, afinal é mulher e, sobretudo humana.
Porém, pratica o bem, principalmente para si própria. Ama os animais. Demonstra e entrega sem restrições seu amor a quem de fato adquiriu o direito de recebê-lo.
Descobriu que a ansiedade atrapalha, talvez por meio de suas próprias experiências ruins.
Aprendeu a não temer nada nem ninguém além do Criador. Acredita na certeza das mudanças e que todas as coisas sempre acontecem pelo melhor. Duvida das coisas muito fáceis, mas confia que vence aquele que nunca desiste do seu objetivo, do seu grande sonho.
Sabe que a lei do retorno é infalível e que todos os seus atos assumem conseqüências no Cosmo. Tudo volta em dobro. A energia é solta e não é boa nem má. Tudo depende do seu uso.
Nada é capaz de tirar-lhe do rosto o sorriso, ainda que lhe aconteçam grandes contratempos.
Contou-me que o pequeno grande milagre que marca sua nova fase de vida vem da descoberta da sua perseverança em transformar-se em uma pessoa melhor. Passou a cuidar-se mais. Alimenta-se com cuidado, pratica exercícios e vem ficando mais bonita a cada dia.
Não se reconhece mais nas fotografias que nem são tão antigas. É uma nova mulher. Renascida.
Reconhece o verdadeiro valor das coisas, principalmente das pessoas. Orgulha-se de suas habilidades, porém sem soberba.
Arquivou suas vivências passadas onde elas devem permanecer e hoje as memórias apenas a ajudam a compreender e entender o que significa aprendizado. Cultiva a paciência, as poucas palavras.
Por todas essas razões, por méritos ou benção divina, recebeu o maior milagre de todos.
Aquele que todos buscam a vida inteira, até o último instante: um AMOR de verdade.
Ainda garante que se deixasse esta vida hoje, levaria a certeza de ter sido irremediavelmente feliz!

domingo, 13 de janeiro de 2008

Hollywood Faliu



Que o Brasil é um país acolhedor, não se discute. Ao longo da história, desde a descoberta, esta terra bem quista tem servido de abrigo para os mais diversos povos do globo terrestre.

Embora neste ano esteja se comemorando os cem anos da imigração japonesa, há muito mais que se comemorar (ou não). Alegria de uns, tristeza de muitos.

Que o cinema vem atravessando uma fase meio complicada, também é sabido. Mas os atores “hollywoodianos” vêm enfrentando problemas mais sérios do que se pode imaginar. Graças aos deuses, o Brasil oferece oportunidades para todos os que aqui chegam. Se o faz para os seus filhos, não negaria ajuda aos irmãos americanos.

Pois é com perplexidade e uma dose de alegria e vaidade que anuncio: ex-ator americano resolveu tentar a vida em São Paulo. Não estou enlouquecendo. Aliás, nunca estive antes desfrutando de tanta lucidez.

No mesmo endereço das rosas colombianas de plástico, é possível jantar e ser servido por ninguém menos que Keanu Reeves, o que compensa qualquer outra falha que possa haver.

Não estava com cara de bons amigos. O assédio já não é o mesmo, as mulheres já não ligam para ele. Não o vi dando um autógrafo sequer. Depois me arrependi de ter vindo para casa sem ao menos ter tirado uma foto para comprovar. Afinal, de astro de Hollywood para garçom de churrascaria em São Paulo, ainda que seja de primeira classe, é uma diferença considerável.

Mas ele aprendeu depressa. Atencioso, educado, competente. Até merecia uma gorjeta. Servia-me a bebida, puxava a cadeira para eu sentar. Continua um gentleman.

Quem quiser saber onde fica, pergunte-me depois. Não são todos os dias que temos a oportunidade de ver as mesmas mãos que abrilhantam a “Calçada da Fama” segurando uma bandeja de inox brilhante.

Apenas um adendo: este é um relato de uma história fictícia. Os fatos são reais, mas, o garçom, é apenas muito parecido. Vale a pena conferir. Posso garantir que isso tudo já rendeu boas gargalhadas. Afinal, poderia ser verdade.

" As Flores de Plástico não Morrem!"






Sustentabilidade. É a palavra de ordem e da moda. Tudo deve ser ecologicamente correto. Mas até que ponto?
Os esotéricos mais entendidos do assunto das leis universais defendem ferrenhamente que energia parada é nociva. Isso inclui objetos fora de uso, roupas, e tudo o mais que não estiver em perfeito estado de funcionamento.
Defendem também a tese de que flores de plástico provocam a estagnação da energia e são anti-prosperidade. Será mesmo?
O mais interessante é que descobri certo ar contraditório nessa afirmação.
Claro que as flores naturais são mais bonitas, valorizam o espaço, alegram o ambiente. Reverenciam a vida da forma mais graciosa que existe. Esbanjam beleza e perfume.
Os consultores de etiqueta mais renomados têm verdadeiro horror às decorações com flores de plástico. Chamam taxativamente de brega.
Meu conceito a respeito de brega ou chique tomou uma outra dimensão. São Paulo oferece uma gama de oportunidades para reflexão de valores sobre determinadas coisas.
Estive ontem jantando num lugar muito elegante da cidade. Diga-se de passagem, em companhia mais que agradável. O salão bem decorado, sóbrio, de cores neutras, luz na medida certa, lembra um casarão antigo das primeiras décadas do séc.XX. Mesas impecavelmente bem postas e um atendimento bem aquém do que estamos acostumados em lugares ditos comuns.
Porém, devo dizer que nem tudo são flores, pelo menos não naturais. Complementando o ambiente elegante e as mesas impecavelmente postas, para minha surpresa, havia um vasinho com uma linda rosa colombiana vermelha, e pasmem:de plástico.
Na periferia, usar natureza morta é brega. Mas... ser ecologicamente correto é chique, pelo menos entre a realeza!