sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Ponto a Ponto


A confusão da linguagem chegou a dimensões inimagináveis. Logicamente a globalização e a futilidade cotidiana contribuíram e contribuem grandemente para que isso se evidencie mais e mais, e não tem nada a ver com a reforma ortográfica dos dias atuais.

Lembro-me das primeiras experiências que tive em contatos mais profundos com a expressão verbal, em meados da década de noventa quando fui professora na rede pública de ensino. Meus alunos eram adolescentes, moradores da periferia e a explosão da internet não havia tomado sequer de longe a importância que tem hoje. Aliás, aqueles meus alunos mal tinham caderno, quanto mais computador.

Algumas das avaliações eu guardei, e não raramente, busco reler naqueles textos o retrato da realidade que nada mudou até hoje, quase quinze anos depois.

Sinto que as dificuldades de expressão se estendem em todos os âmbitos de nossa vida, uma vez que somos seres cem por cento comunicantes, verbalmente ou não.

Estatísticas dizem e comprovam que noventa por cento de nossa comunicação é não verbal e em virtude disso, a interpretação do que cada um diz por meio do uso dessa linguagem, deveria ser mais bem observada e então interpretada.

O que me levou a pensar sobre isso é a avalanche de textos que recebo cotidianamente em meu correio eletrônico, fazendo com que eu necessite redobrar a atenção para interpretar seu conteúdo. Você certamente em algum momento da sua vida já teve uma professora de Língua Portuguesa que insistia naqueles textos do tipo: leia o texto abaixo pontuando ortograficamente se necessário. E sempre era necessário.

Uma mensagem mal pontuada pode gerar uma série de desentendimentos e truncar a comunicação daqueles a quem diz respeito. A frase começa e termina do mesmo jeito. A pontuação não existe ou quando existe está em lugar errado. Além do desconforto causado no momento da leitura, cede ao leitor o direito de interpretá-la como quiser.

Pois bem, infelizmente isso acontece em todos os momentos, não somente nos textos enviados e recebidos, mas nas mensagens não verbais que trocamos o tempo todo com as pessoas, principalmente com quem nos é mais próximo.

Existem pessoas que não conseguem pontuar sua realidade. É como se a vida fosse aquela velha frase da escola que começa e termina do mesmo jeito.

Não exclamam, portanto, não se emocionam.E o pior, não se deixam emocionar.

Respostas que ficam sem pergunta, porque não souberam interrogar quando necessário.

Histórias sem continuidade, porque no lugar de reticências, ficou o vazio e a dúvida.

A pressa cotidiana e a rotina, deixaram as pausas de lado, nem vírgula, nem ponto-e-vírgula, nada que dissesse: pare um instante, pense, respire, reflita.

Também há aqueles que se esqueceram de colocar outro travessão nos diálogos, e então os monólogos ficaram cada vez mais constantes, e quem deveria falar também, apenas ouve por falta de opção ou falta de coragem.

Não há dois pontos para sinalizar que é necessário ter atenção: eu quero lhe dizer algo importante.

Não usam aspas para mencionarem palavras que não lhes pertencem, conferindo-lhes a falta de originalidade e a falsa ideologia.

Sinto concluir que os relacionamentos se condenam à falência, porque alguém esqueceu de colocar os pontos no lugar.

E infelizmente o que mais acontece, é que na hora em que tudo se perde e é quase irreversível, a única alternativa é salvar o pouco que sobra, se é que sobra, com a única coisa que tinha naquela velha frase da escola: a dura realidade do ponto final!


quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Identidade


Está cada vez mais difícil imprimir identidade própria àquilo que nos diz respeito. Por vezes, fico buscando respirar na superfície, pois para todos os lados que olho e caminho tudo é exatamente igual. É como se a submersão fosse um estado obrigatório e permanente.

Até a maneira em que muitas vezes utilizamos para descrever algo ou alguém, precisa estar diretamente vinculada a uma imagem popular, a uma marca ou fato que TODOS conheçam. Isso me entristece.

A impressão que dá, é que ninguém tem o direito de ter sua marca própria e que isso é errado, pois está fora do contexto.

Infelizmente as pessoas estão deixando de ter suas vozes e vontades atendidas porque preferiram aderir ao que é comum. Faça a experiência de olhar vitrines. Dentro de um shopping, ao olhar uma loja, esteja certo de que já viu todas. Até a disposição das roupas e acessórios nos manequins são idênticas.

Quem foi que disse que eu tenho de gostar daquilo que está ali? Não é rebeldia, simplesmente não sou igual à maioria. E aí, das duas uma: ou você cede para não parecer chato e intransigente ou mantém sua identidade e é comparado a um ET.

O pior é que quando não estamos de acordo com a massa, ficamos sofrendo esse tipo de apontamento e o que mais pode ser pior do que ser comparado? A comparação só reafirma a teoria da perda do direito de ter e expressar sua identidade.

Experimente falar de alguém que você conheça e descrevê-lo a um amigo ou parente. Experimente falar de um sabor ou cor que você conheceu em alguma situação. A pergunta que vem em seguida é: parecido com que ou parece com quem?

Como assim? Por que é que qualquer coisa que exista tem de ser parecido com outra? Por quê? Se já que somos únicos não fazemos disso um motivo de crescimento ao invés de ficarmos o tempo todo tentando parecer com outra pessoa, colocando em cheque nossa identidade?

Lamento informar que vou continuar não gostando e não usando a moda (se é que se pode chamar assim) que pensam me impor. Lamento informar que não vou passar o resto da minha vida consumindo música ruim, comida ruim, feitos tão depressa e automaticamente que parecem crus.

Aos que não concordam não há motivo para desculpar-me. Afinal você tem o direito de ser parecido com quem quiser.

Eu, como sou eu pura e simplesmente, e por estar absolutamente consciente de minhas responsabilidades, assumo definitivamente a minha condição de ET. E se as coisas continuarem caminhando nessa direção...

Não demora e eu terei de mudar de planeta.


sábado, 18 de outubro de 2008

Fênix

Quantos de nós já não passamos por alguma experiência insuportável a ponto de desejar entregar os pontos?

No momento da vivência do tormento fica quase impossível enxergar saída para aquilo que parece a ruína, o fracasso. Qualquer coisa ou situação que ilustre o sofrimento de alguém é muito particular e, da parte de quem observa, merece respeito.

Existem pessoas mais sensíveis e frágeis, com tolerância menor para determinadas situações que outras.

Cada um de nós sabe até onde pode chegar, até onde pode suportar.

O grande segredo para passar por essas situações que atormentam nossas mentes que nos tira o sono e a fome, que nos enchem de culpa ou de impotência temporária é a compreensão e o entendimento de que tudo nessa vida há seu tempo e a arma da espera é a paciência.

Desenvolver a paciência principalmente consigo é tarefa difícil e deve ser exercitada e aprimorada todos os dias.

Estamos em processo de feitura desde o nascimento até o momento em que deixamos esse mundo. O que nos move nessa vida é o fato de estarmos o tempo todo em busca de algo ou alguém. Da realização dos desejos mais íntimos da nossa alma, sejam materiais ou não.

A vida é tão imprevisível. Lembro-me que quando era criança, gostava muito de observar águas correndo em rios e riachos todas as vezes que saía para pescar com meu pai. Muitas vezes as águas muito limpas me deixavam ver as pedras ao fundo, lisas, polidas e não foram poucas as ocasiões em que eu peguei uma ou outra na mão para apreciar o polimento feito pela água corrente sobre a pedra bruta, que deixou a água agir sobre ela durante um tempo.

Porém, em minha compreensão infantil, pedra era pedra e não entendia portanto ,como aquelas que eu encontrava no chão poderiam ser tão diferentes daquelas que estavam sob as águas. As do chão, muitas vezes ásperas, pontiagudas, brutas podendo ferir as mãos de quem tocasse sem cuidado.

Com o polimento que as águas da vida vão fazendo em nós, é possível tornar-se polido, com menos pontas e aspereza que sejam capazes de ferir quem nos toque.

Muitas vezes é necessário lançar-se às águas cegamente e deixá-la simplesmente correr sobre você, representado pela pedra bruta. Pode ser que o polimento leve mais tempo do que o esperado, pois cada ponta a ser polida representa uma situação, algo ou alguém que a deixou mais cortante, muitas vezes feia.

Depois de tantas situações com as quais vamos nos tornando quem somos, hoje entendo profundamente o sentido da frase popular : “ Água mole, pedra dura. Tanto bate até que fura”.

Somos o conjunto de todas as nossas vivências, boas ou ruins. Porém, o que nos torna pessoas melhores sem dúvida são situações que gostaríamos imensamente de ter evitado.

Não devemos desejar o sofrimento, pois seria masoquismo. Mas reconhecer seu benefício no processo de construção do que você é e pode se tornar é sabedoria.

Até mesmo a lendária Fênix soube renascer e continuar no momento em que para muitos seria definitivamente o fim.



Anjo Especial

Impressionante é o impulso que nos torna capazes de realizar quaisquer coisas nessa vida quando se trata de proporcionar pelo menos um pouco mais de felicidade a alguém.

O fato de imaginar possibilidades concretas de seqüenciais momentos felizes lança ao fogo todo e qualquer sacrifício, a energia se dissipa e tudo continua a fluir.

O que poderia ser obstáculo se torna força. O que poderia ser limitador se torna transformador.

As forças que nos movem a realizar grandes coisas ainda que comecem muito pequenas são tão intrínsecas que costumo dizer que muitas vezes é necessário fazer um parto para que elas se exponham.

Desde muito cedo somos obrigados a nos ocultar e seguir o que a maioria julga certo para nos encaixarmos nos ditos padrões. Nunca fui adepta aos modismos e aos padrões, a começar pelo meu tipo físico que também está longe de ser um padrão e isso não me preocupa nem um pouco.

A beleza de cada um, de cada coisa está exatamente nas diferenças. Normalmente as pessoas com quem estabelecemos vínculos mais profundos, embora tenham uma enormidade de coisas afins, são as de personalidade mais distinta de nós.

Ou você é extremamente paciente e o outro é o explosivo apressado; um tem o raciocínio mais lógico e o outro filosófico, um gosta de esporte e o outro prefere assistir confortavelmente sentado e tomando sorvete, mas ambos indiscutivelmente amam dormir.

Isso não significa oposição, apenas maneiras diferentes de viver. Não deveriam ser embora também aconteçam, motivos para discussão e impaciência.

Se observássemos as pessoas mais demoradamente teríamos muito mais motivos para agradecer a presença delas em nossa vida do que para lamentar.

Hoje saí para caminhar um pouco ao final da tarde. O dia foi de um trabalho intenso, exaustivo, porém recompensador.

Contudo, eu precisava ver a rua. Garoava brandamente e a temperatura estava despencando aos poucos.

Resolvi parar para jantar em um restaurante aconchegante a duas quadras de casa, recém inaugurado por sinal.

Infelizmente sentei-me defronte a uma TV que noticiava o fim sangrento de um seqüestro. Coloquei-me a pensar sobre essas questões que levam pessoas a perderem a razão em nome do amor, o que é uma hipocrisia. Amor que é amor é incapaz de cometer atrocidades, amor que é amor liberta, não aprisiona.

O ambiente agradável ao redor me fez esquecer por uns instantes o fato da TV. Há um laguinho bem ao centro do restaurante onde tinham alguns patinhos se deliciando num bom banho.

O movimento de pessoas começou a aumentar devido ao horário, quando entrou um casal e seu filho, que deveria ter em torno de dois anos. Ao passarem por mim, o garoto olhou-me fixamente e percebi que era portador da Síndrome de Down.

Antes que se acomodasse junto aos pais à mesa que ficava logo atrás da minha, ele se deu conta dos patinhos e ficou extasiado com aquilo. Colocou-se a falar com os bichos e um dos garçons aproximou-se dele com um pote cheio de milho para que ele jogasse aos patos. Numa observação o garçom disse-lhe que além dos patos havia peixes, porém, morreram todos, sobrando somente as aves.

O menino parou um instante. Olhou para a água e os patos. Olhou o garçom e disse:
- Ainda bem que sobraram os patos, senão o milho estragava porque não ia ter ninguém pra comer.

Criança é uma coisa fabulosa. Ele não tem consciência do seu problema e isso não representa nada para ele. Diante do infortúnio da morte dos peixes ele nem se importou com a vida dos patos. Apenas não queria que a comida estragasse.

Se analisássemos nossos peixes mortos pelo caminho por essa ótica, talvez nossas fomes fossem saciadas mais facilmente.
Qualquer um em nossa vida pode ser mestre. Inclusive um garoto com dois anos portador de Síndrome de Down.

Os anjos chegam até nós de formas diversas, só precisamos prestar atenção às suas vozes e ao que dizem.






quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Gaiola Invisível



Há coisas que são passíveis de permanecer como estão ainda que se avancem os séculos e séculos.

Nunca em tão pouco tempo foi visto tanto avanço tecnológico, tornando os equipamentos que agora são indispensáveis cada vez menores e velozes, capazes de armazenar um número incalculável de informações.

Embora de certa maneira isso tenha contribuído para a evolução da sociedade, de modo geral não foi tão benéfico assim.

Não há muitos anos, vivíamos uma correria tranqüila, pois ou éramos localizados no trabalho ou ao chegarmos a nossa casa. Lembro-me que em muitas ocasiões, quando o telefone era artigo de luxo, caríssimo, por muitas vezes fornecíamos como contato o número da vizinha explicitando: telefone de recado.

Hoje, se quiser manter o mínimo de privacidade há uma alternativa: não tenha celular ou desligue se não quiser ser incomodado, e ainda, jamais forneça os números dos seus contatos mais próximos, pois algum “satélite” se encarregará de telefonar para todos eles para saber se vocês estão juntos querendo falar com você urgentemente.

Tenho um conhecido que não aderiu á moda do celular e diz: “se alguém morrer, fico sabendo ao chegar à minha casa, afinal, o enterro será só amanhã mesmo.”
No fundo ele tem razão. Nossas urgências são fúteis, perdemos tempo dando importância às amenidades e nos esquecemos do essencial.

Há quanto tempo não saímos descompromissadamente para caminhar e respirar apenas? A frase que habita todos os lábios e mentes é: não tenho tempo.

Coloquei-me a pensar nisso depois que soube que o pai de um amigo querido se viu com um tipo de câncer que o impossibilitou temporariamente de correr contra o tempo do qual fora escravo durante anos e anos.

E somos todos assim: levantamos cedo, trabalhamos o dia todo, voltamos para casa, vemos TV, um pouco de conversa com alguém na internet... Cama, poucas horas de sono mal dormidas por causa das preocupações. E... O dia seguinte é exatamente igual.

Talvez a tal liberdade não exista ou talvez o preço seja alto demais para comprar as chaves do cadeado que sela as portas dessa gaiola invisível.


sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Além da Queda

Ao final do jogo a vencedora apenas olhava com um sorriso cínico o torpor da que havia sido vencida.
Lutara bravamente, mas não resistira aos golpes incisivos e planejados da adversária. Não lhe restava mais nada além da honra e da responsabilidade de saber perder naquele momento.
Olhou a platéia e teve vontade de desaparecer. De um lado o brado descontrolado dos que vibravam com a vencedora. Do outro, o silêncio entorpecido dos que assistiam sua queda amarga.
Diante do que não poderia ser mudado, levantou-se e a multidão silenciou.
Olhou ao redor como se olhasse a cada pessoa nos olhos.
Agradeceu a todos com um sorriso, independente de saber de que lado estavam.
Sentiu alívio. Sentiu-se forte.
Sabia que ainda que não houvesse vencido tinha dado um passo importante.
Era a primeira vez que experimentava a perda de algo tão significativo, mas não podia mudar nada.
Respirou. Olhou a adversária fixamente e sorriu.
Estendeu-lhe a mão e agradeceu ter sido vencida.
Lembrou-se das vezes que venceu e colocou-se no lugar dos vencidos.
Ao exibir o troféu, a adversária sorriu tripudiando sobre ela. Queria fazê-la sentir-se pequena.
Pensou depressa e num gesto espontâneo, foi a primeira a aplaudir a vitória de quem a derrotara.
Sabia que tinha dado tudo de si, sabia que não havia falhado... Mas o juiz não conseguira ver seus esforços.
O maior desafio da derrota é saber onde ela entra como vitória.
Resolveu então abrir mão do orgulho. Deixou-se invadir pela emoção e não conteve as lágrimas.
Sabia que não seria a última vez. Sabia que também venceria outras vezes.
Na vida, tudo tem dois lados. O esquerdo e o direito... O claro e o escuro... O quente e o frio... A alegria e a tristeza.
Sua dignidade valia mais que o prêmio. Àquela altura, ele era mais pesado que bonito.
Mesmo vencida naquele momento, soube fazer sua escolha.
Escolheu viver sua dor e regar as sementes da recompensa com suas lágrimas... Logo seus canteiros estariam floridos novamente, pois o Sol no dia seguinte, não tardaria a nascer.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Cabeça nas Nuvens

O cenário era composto de uma diminuta janela por onde estavam fixos os dois pares de olhos ao espetáculo que acontecia em alta velocidade lá fora.

Aquilo era privilégio de poucos, e eles, estavam lá, diante do que acontecia gratuitamente como presente do Universo.

Não se davam conta das outras dezenas de pessoas que coexistiam ali por acaso ou não. Não prestavam atenção em nada mais além das cores que assumiam as nuvens em resposta aos generosos raios do Sol e os desenhos formados por elas.

A impressão era que havia um grande vale, parecendo um “Grand Canyon” suspenso, formado por gelo que na verdade eram nuvens alvas e aparentemente macias como algodão.

Foi num momento de contemplação que ela se deu conta de tudo o que acontecia ao seu redor. Da grande gratidão que sentia por ser agraciada com tantos prazeres ao mesmo tempo.

Tinha uma sorte imensurável. Assistia ao espetáculo da natureza acontecendo de modo ímpar, como uma apresentação particular, como se houvesse sido planejado tudo exatamente para aquele momento único.

Sentiu uma alegria e paz profunda. Estava no céu, literalmente. Nada mais importava ali, além do balé dos raios do Sol sobre as nuvens e a companhia do par de olhos mais preciosos que poderia ter ao lado dos seus , que através da mesma diminuta janela, estavam lá para perpetuar aquele instante em suas memórias pelo restante dos seus dias.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Amor em Pó




Nesse momento eu transbordo silêncio e reflexão. São muitas as vozes e eu preciso concentrar-me para escutá-las todas.

As mudanças planejadas tomam consistência e não se chocam com as que acontecem repentinamente.

A vida segue uma direção única, na qual a base é sempre o aprendizado. Sou uma fonte infinita de possibilidades, desde que eu as deixe aproximarem-se. A luz do Pai guia meus novos passos e estou segura pelas mãos Dele.

Talvez seja a fé o maior combustível para realizar aquilo que parece a princípio ser impossível.

Tenho a impressão muitas vezes que mesmo quando faço escolhas, elas não são totalmente minhas. Talvez algumas coisas estejam muito aquém do meu entendimento. A lógica diz que linhas paralelas nunca se encontram embora possam caminhar juntas.

A vida me mostrou que em algum lugar dessas linhas há um desvio... Um ponto de junção onde elas se tornam uma. A estrada fica mais larga e ganha uma gama de possibilidades novas.

A atenção deve ser ainda maior... São dois caminhos se tornando um. A soma não é só das belezas, mas também dos obstáculos. Há que se ter cuidado para pisar no território que também passou a ser responsabilidade sua.

Nesses casos vale a velha máxima: “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.

A verdade é que todo mundo tenta explicar metaforicamente certas coisas da vida que não têm explicação lógica. Assim como ficamos procurando culpados para nossas desventuras, queremos também achar solução para o insolúvel ou ainda não acreditar naquilo que está bem diante dos olhos.

Essa é a velha vida. Esses são os mistérios humanos. Isso é o amor que perpetua em nós ainda que voltemos ao pó, porque até o ar que respiramos está cheio dele...


É uma pena que esteja tão poluído.


quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Pintura Inacabada


Evitaram olhar-se nos olhos na última vez. Tinham a voz embargada, tinham uma história inacabada.
Em poucos segundos, anos de amor foram revividos naquelas mentes, como um filme, onde o final não foi feliz.
O amor estava lá ainda, vivo gritando dentro deles. Confessaram-se covardes, cada um à sua maneira. Ele fugindo para o lugar de sempre, ela saindo pela porta da frente.
Não houve adeus, não houve até breve. Ao afastar-se carregava com ela impregnado nas narinas aquele perfume que tantas vezes lhe acendera os instintos.
Pode olhar pela porta entreaberta aquele rosto escondido atrás das lentes e do qual sabia todos os traços, parado, mirando o vazio e segurando as lágrimas.
Que amor ingrato era esse que nasceu para acorrentar essas almas?
Mistérios que a vida não revela ainda que se busque a verdade.
Ao distanciar-se ainda mais, tratou logo de ocupar as mãos, para não voltar em direção a ele e entregar-se num abraço interminável que só desejava dizer-lhe que desde sempre seria dele todo o seu amor, ainda que a vida insistisse em tentar provar-lhes o contrário.