quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Gaiola Invisível



Há coisas que são passíveis de permanecer como estão ainda que se avancem os séculos e séculos.

Nunca em tão pouco tempo foi visto tanto avanço tecnológico, tornando os equipamentos que agora são indispensáveis cada vez menores e velozes, capazes de armazenar um número incalculável de informações.

Embora de certa maneira isso tenha contribuído para a evolução da sociedade, de modo geral não foi tão benéfico assim.

Não há muitos anos, vivíamos uma correria tranqüila, pois ou éramos localizados no trabalho ou ao chegarmos a nossa casa. Lembro-me que em muitas ocasiões, quando o telefone era artigo de luxo, caríssimo, por muitas vezes fornecíamos como contato o número da vizinha explicitando: telefone de recado.

Hoje, se quiser manter o mínimo de privacidade há uma alternativa: não tenha celular ou desligue se não quiser ser incomodado, e ainda, jamais forneça os números dos seus contatos mais próximos, pois algum “satélite” se encarregará de telefonar para todos eles para saber se vocês estão juntos querendo falar com você urgentemente.

Tenho um conhecido que não aderiu á moda do celular e diz: “se alguém morrer, fico sabendo ao chegar à minha casa, afinal, o enterro será só amanhã mesmo.”
No fundo ele tem razão. Nossas urgências são fúteis, perdemos tempo dando importância às amenidades e nos esquecemos do essencial.

Há quanto tempo não saímos descompromissadamente para caminhar e respirar apenas? A frase que habita todos os lábios e mentes é: não tenho tempo.

Coloquei-me a pensar nisso depois que soube que o pai de um amigo querido se viu com um tipo de câncer que o impossibilitou temporariamente de correr contra o tempo do qual fora escravo durante anos e anos.

E somos todos assim: levantamos cedo, trabalhamos o dia todo, voltamos para casa, vemos TV, um pouco de conversa com alguém na internet... Cama, poucas horas de sono mal dormidas por causa das preocupações. E... O dia seguinte é exatamente igual.

Talvez a tal liberdade não exista ou talvez o preço seja alto demais para comprar as chaves do cadeado que sela as portas dessa gaiola invisível.


3 comentários:

Celamar Maione disse...

Fernanda
Obrigada pela sua visita ao meu blog.
Visite e comente sempre. Faça uma blogueira feliz ! rs
Quanto a " Gaiola", vc escreveu o que penso exatamente. A liberdade é de mentira e o cadeado é a nossa mente. Escravos do relógio. Eu me recuso.
Visitarei outras vezes.
Agora me diga : Como manter o bom humor na TPM ? Aiiiiiiii
Bjs

Carla disse...

Quantas vezes não dou por mim a pensar exactamente desta forma...em três décadas a face do mundo mudou e a verdade é que não sei se foi para melhor, pelo menos em todos os sentidos
beijos

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

Querida amiga Fernanda, você acertou em cheio. Seu texto está divino, é exatamente assim que estamos vivendo. beijos querida.
Parabéns pelo texto.