sábado, 18 de outubro de 2008

Fênix

Quantos de nós já não passamos por alguma experiência insuportável a ponto de desejar entregar os pontos?

No momento da vivência do tormento fica quase impossível enxergar saída para aquilo que parece a ruína, o fracasso. Qualquer coisa ou situação que ilustre o sofrimento de alguém é muito particular e, da parte de quem observa, merece respeito.

Existem pessoas mais sensíveis e frágeis, com tolerância menor para determinadas situações que outras.

Cada um de nós sabe até onde pode chegar, até onde pode suportar.

O grande segredo para passar por essas situações que atormentam nossas mentes que nos tira o sono e a fome, que nos enchem de culpa ou de impotência temporária é a compreensão e o entendimento de que tudo nessa vida há seu tempo e a arma da espera é a paciência.

Desenvolver a paciência principalmente consigo é tarefa difícil e deve ser exercitada e aprimorada todos os dias.

Estamos em processo de feitura desde o nascimento até o momento em que deixamos esse mundo. O que nos move nessa vida é o fato de estarmos o tempo todo em busca de algo ou alguém. Da realização dos desejos mais íntimos da nossa alma, sejam materiais ou não.

A vida é tão imprevisível. Lembro-me que quando era criança, gostava muito de observar águas correndo em rios e riachos todas as vezes que saía para pescar com meu pai. Muitas vezes as águas muito limpas me deixavam ver as pedras ao fundo, lisas, polidas e não foram poucas as ocasiões em que eu peguei uma ou outra na mão para apreciar o polimento feito pela água corrente sobre a pedra bruta, que deixou a água agir sobre ela durante um tempo.

Porém, em minha compreensão infantil, pedra era pedra e não entendia portanto ,como aquelas que eu encontrava no chão poderiam ser tão diferentes daquelas que estavam sob as águas. As do chão, muitas vezes ásperas, pontiagudas, brutas podendo ferir as mãos de quem tocasse sem cuidado.

Com o polimento que as águas da vida vão fazendo em nós, é possível tornar-se polido, com menos pontas e aspereza que sejam capazes de ferir quem nos toque.

Muitas vezes é necessário lançar-se às águas cegamente e deixá-la simplesmente correr sobre você, representado pela pedra bruta. Pode ser que o polimento leve mais tempo do que o esperado, pois cada ponta a ser polida representa uma situação, algo ou alguém que a deixou mais cortante, muitas vezes feia.

Depois de tantas situações com as quais vamos nos tornando quem somos, hoje entendo profundamente o sentido da frase popular : “ Água mole, pedra dura. Tanto bate até que fura”.

Somos o conjunto de todas as nossas vivências, boas ou ruins. Porém, o que nos torna pessoas melhores sem dúvida são situações que gostaríamos imensamente de ter evitado.

Não devemos desejar o sofrimento, pois seria masoquismo. Mas reconhecer seu benefício no processo de construção do que você é e pode se tornar é sabedoria.

Até mesmo a lendária Fênix soube renascer e continuar no momento em que para muitos seria definitivamente o fim.



Nenhum comentário: