quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Pintura Inacabada


Evitaram olhar-se nos olhos na última vez. Tinham a voz embargada, tinham uma história inacabada.
Em poucos segundos, anos de amor foram revividos naquelas mentes, como um filme, onde o final não foi feliz.
O amor estava lá ainda, vivo gritando dentro deles. Confessaram-se covardes, cada um à sua maneira. Ele fugindo para o lugar de sempre, ela saindo pela porta da frente.
Não houve adeus, não houve até breve. Ao afastar-se carregava com ela impregnado nas narinas aquele perfume que tantas vezes lhe acendera os instintos.
Pode olhar pela porta entreaberta aquele rosto escondido atrás das lentes e do qual sabia todos os traços, parado, mirando o vazio e segurando as lágrimas.
Que amor ingrato era esse que nasceu para acorrentar essas almas?
Mistérios que a vida não revela ainda que se busque a verdade.
Ao distanciar-se ainda mais, tratou logo de ocupar as mãos, para não voltar em direção a ele e entregar-se num abraço interminável que só desejava dizer-lhe que desde sempre seria dele todo o seu amor, ainda que a vida insistisse em tentar provar-lhes o contrário.

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