terça-feira, 22 de janeiro de 2008

" Nossa linda juventude, página de um livro bom..."



Está no dicionário:
Juventude: s.f. Parte da vida do homem entre a
infância e a idade viril: o brilho da juventude. / Estado de uma pessoa jovem. / As pessoas jovens: instruir a juventude. / Fig. Energia, vigor, viço: conservar a juventude do coração.

O IBGE define o jovem como aquele que se encontra na faixa entre os 15 e 24 anos. Já outros órgãos, como os ligados ao terceiro setor, preferem dar essa classificação às pessoas com idade entre 19 e 29 anos, separando-os dos adolescentes.

Há controvérsias. Juventude engloba toda uma condição, um estilo de vida, coisas que marcam o tempo, uma época inteira. O século XX está imortalizado pela velocidade e pela intensa transformação da juventude em cada década.

Os avós das pessoas nascidas entre as décadas de 60 e 70, bem provavelmente vieram da zona rural. Os que ainda vivem contam histórias sobre a guerra e as revoluções. Conheci alguns que serviram ao exército. Eu era criança e meu pai tinha um mercadinho numa vila. Lá alguns se reuniam e mostravam orgulhosos os fotos para as quais posaram fardados ao lado de algum amigo combatente ou ao lado dos carros que nem de longe são as máquinas de hoje. Casavam-se cedo. Mulheres com mais de dezoito anos e que ainda fossem solteiras já “ficavam faladas”, pior , estavam encalhadas.Tinham pouca ou nenhuma escolaridade e ser Doutor era um sonho, muitas vezes bem distante.

O meio de transporte era a bicicleta ou o bonde. Andavam a noite pelas ruas sem o risco de serem atropelados ou assassinados. O padeiro entregava o pão e leite na porta de casa e a garrafa do leite era de vidro. Na casa em que eu morei tinha uma dessas, brinquei com ela muito tempo. As mulheres eram criadas para serem donas de casa, não usavam calça comprida. Tinham em média 5 a 6 filhos e não ficavam deprimidas. Tinham de ser prendadas: saber cozinhar, lavar, passar, bordar. As pessoas tinham uma expectativa de vida não muito maior que 55/60 anos.

Os jovens tinham como lazer os piqueniques, e pequenas festividades mais familiares. Respeitavam dias santos. Brincavam o carnaval de forma singular. Cantavam marchinhas, freqüentavam matinês. Ir à praia era uma verdadeira viagem.

Vieram nossos pais. A maioria deles entre as décadas de 40 e 50. As transformações foram lentas, mas gradativas. Uma boa parte deles freqüentou a escola, mas não chegaram muito longe. Os homens eram incentivados até mesmo por necessidade a trabalharem muito cedo. Meu pai começou a trabalhar com doze anos. Trabalhavam muito mais que oito horas diárias e em virtude disso, não conseguiam conciliar com os estudos. Os pais obrigavam os filhos a trabalhar para ajudarem no sustento de casa, normalmente havia muitas bocas para alimentar. Não raro, abandonavam a escola antes de completar o primeiro grau.

Foi uma juventude marcada por grandes acontecimentos. Não tinham malícia. Eram tão inocentes que cultivaram vícios como cigarro e bebida e se condenariam anos mais tarde por isso. Viveram intensamente a época da explosão do Rock and Roll, com Elvis, Beatles e Woodstock. Passeavam de lambreta, usavam jaqueta de couro e o cabelo engomado. As moças eram mais femininas. Tinham cabelos longos, usavam vestidos, faziam penteados. Usavam bom-bril e laquê para sustentar os grandes “coques”. As mulheres já trabalhavam fora. Em “casa de família” ou nas fábricas.
Também faziam piqueniques. Em São Paulo, o “point” era o Pico do Jaraguá. Faziam bailinhos nas casas dos amigos. Freqüentavam os circos e parques de diversão, inclusive o namoro dos meus pais começou num deles. Tinham um romantismo que ficou perdido. Nessas ocasiões, ofereciam músicas para o seu par. Viram a revolução, o surgimento da TV em cores, festejaram o tricampeonato mundial de futebol do Brasil em 70. Viveram as atrocidades da ditadura. Casaram-se cedo, porém um pouco mais tarde que seus pais, a média de idade variava entre vinte e dois e vinte e cinco anos.

Eis que estamos aqui. Vivendo nossa juventude aos trinta e poucos anos. Contando a história dos nossos pais e avós e fazendo aquilo que talvez eles sonharam tanto. Há trinta ou quarenta anos atrás, as pessoas com nossa idade já eram senhores e senhoras. Hoje, não é incomum encontrarmos adolescentes beirando os quarenta anos. E isto é no mínimo fantástico.

Vivemos toda a intensidade da década de 80, tivemos ídolos que ainda conservamos. Brincamos na rua, vimos nascer o vídeo-game e o computador. Vivemos paixões na adolescência e depois dela sem a obrigação do casamento. Muitos de nós e de nossos amigos são doutores. Vimos o fim da ditadura, a volta da democracia, a reforma constitucional. Derrubamos um presidente. A AIDS nos tirou poetas. O trânsito mata mais que as guerras. Hoje vamos à praia como quem atravessa a rua.

A eterna juventude é uma busca intensa, interminável e muitas vezes obsessiva. Revolução na indústria cosmética, cirurgias plásticas, tinta no cabelo, malhação, culto ao corpo e à beleza. De repente você aparenta artificialmente que tem dez anos a menos.

Vejo jovens com mais de cinqüenta ou sessenta anos diariamente. Vivendo intensamente seu instante, abraçando a vida da forma que ela merece, sorrindo para ela, sem lamentar o que ficou para trás. Do mesmo modo, vejo idosos com menos de trinta ou quarenta anos, preocupados com o futuro que talvez nem chegue.

Independente do tempo em que se vive, juventude é comprovadamente estado de espírito. A cada ano vivido, a cada experiência adquirida, é questão de inteligência emocional inclusive, não pensar que se está ficando velho. Na minha concepção, e ao me olhar no espelho, vejo uma mulher com os mesmos sonhos da juventude, apenas acrescida de outras responsabilidades. Não sinto que estamos ficando velhos, mas que permaneceremos jovens por mais tempo. Simplesmente porque conservamos nosso gosto pela vida e o que virá depois de nós, cabe a cada um saber por si.





Nenhum comentário: