quarta-feira, 28 de novembro de 2007

27 de Novembro - Dia Mundial da Luta Contra o Câncer




Ontem pela manhã o administrador da empresa que eu trabalho entrou no meu departamento com “uma gentileza que lhe é particular” e gritou &*$%%#$%@@@( palavrão ) PRECISO DE 2 FUNCIONÁRIOS NA PALESTRA DA CIPA AMANHÃ!!! (&¨%$#@#$%¨&* outros palavrões ) SERÁ QUE ESSE BANDO DE (*&¨%$###$%@@@**) ACHA QUE NÃO TEM NADA MAIS IMPORTANTE PRA SE FAZER?
Como sempre acontece, olhei com espanto. Não me acostumo com isso. É insuportável o vício de xingar tudo e todos. Naquele momento, tomei a decisão de participar da tal palestra só pra ele parar de falar, de gritar, e de criticar.Talvez isso seja um defeito, mas sou pacífica, fujo de confusão de qualquer tipo. Escolhi o horário da tarde por ser menos tumultuado para mim.
Confesso que num primeiro instante, também não estava muito animada. Era logo depois do almoço e eu sempre tenho tantos afazeres, mas já tinha assumido esse compromisso OBRIGATÓRIO.
Quando minha colega competentíssima na oncologia e dominando intimamente o assunto começou a falar, eu nem imaginava o que me esperava depois daquilo tudo.
Durante a sua apresentação,até por estarem presentes pessoas que não a conheciam, ela disse que ao final ouviríamos um depoimento de um paciente que estava em tratamento, o que a princípio não me chamou muito a atenção. Ledo engano.
Quando a palestra dela acabou e o paciente foi chamado á frente para dar seu depoimento, me deu um nó. Eu sabia quem ele era, estava cuidando de um exame que ele havia feito no dia anterior.
E então ele começou:
“ Há um ano e meio atrás, eu não imaginava que estaria aqui. Gostaria de lembrar que não sou palestrante. Faço parte de um grupo (AA) e estou abstêmio há oito anos. Tenho cinqüenta e três anos, trinta dos quais bebi e fumei. Aos vinte e cinco anos, percebi mudanças no meu corpo...essa doença dá sinais cedo. Não me preocupei. O tempo foi passando, às vezes eu sentia que tinha algo errado, mas o orgulho e a vergonha aprisionam. Tinha preconceito. (...) Hoje, vivo o momento mais feliz da minha vida. A doença me fez enxergar o quanto não somos nada. Uso uma sonda(para urinar), uma bolsa de colostomia e um permcath (espécie de catéter) para receber a quimioterapia duas vezes por semana. Tenho uma mulher maravilhosa . Acordamos todas as manhãs e passamos o dia rindo até a hora de ir dormir. Uso meus apetrechos para fazer piada. Rir te salva de tudo. Agradeço a Deus todos os dias por ter me mostrado a doença. Valorizo cada dia. Conheci as pessoas mais maravilhosas da minha vida por causa de uma coisa que para muitos poderia ser o fim, e pra mim, foi o recomeço. Querem saber ? Acho uma delícia vir aqui às quintas-feiras fazer quimioterapia. Estou em tratamento há cinco meses, mês que vem é o último e já estou com saudade. Não sou masoquista, apenas aprendi a ver a dor com os olhos do amor, por mim, pelas pessoas, pela vida a cada dia.”

Fiquei um tempo tentando digerir tudo aquilo. Saí de lá me sentindo pequena. Às vezes, o crescimento só se dá nessas horas. Por isso, esqueci os palavrões. Agradeci por ter sido OBRIGADA a estar lá. A verdade é que eu precisava ouvir aquilo. Talvez fosse pra mim, talvez eu precisasse contar pra alguém, ainda não sei qual foi a lição. Só sei de uma coisa... Amo hoje sem reservas. Não quero esperar doer nada pra descobrir o valor das pessoas, nem o meu próprio. Quero continuar sendo integral naquilo que digo, naquilo que sou, naquilo que sinto. Que a vida me traga suas arestas, recebo força e milagres diários para apará-las todas!

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