sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Um passeio de barco...

5 de fevereiro, 1977.

Uma menininha com três anos e meio vestida de short azul e camiseta cor-de-rosa vem caminhando lentamente pelo corredor da casa de quatro cômodos e, ao parar na porta do quarto vê um aglomerado de gente em volta daquela cama e daquele que até ainda há pouco era seu berço.

Estava um pouco cansada. Queria deitar, mas aquele lugar que era seu já estava ocupado.
Mas como, se quando saiu para ir passar uns dias na casa de sua tia não tinha ninguém lá? Estranho...

Ah, mas foram dias divertidos. Aquela sua tia era para ela mais uma mãe. Fazia todas as suas vontades. Era a mais nova das crianças ali naquela casa.

Naquele dia levantaram-se cedo. Foram fazer um longo passeio. Correram, brincaram até a exaustão. Seus primos mais velhos não tinham lá muita paciência, mas ela nem ligava. Ficava atrás deles e se divertia como podia.

Quase ao final do dia, foram passear de barco. Ficou durante todo o passeio próximo à janela, sentada no colo de sua tia. Ela então lhe contou como quem lhe preparava o espírito, que a partir daquele dia, ao voltar pra casa, sua vida seria diferente. Que as coisas não seriam mais só dela, que ela teria de aprender a dividir.

Mas dividir o que? Lá eu tenho Meu pai, Minha mãe, Meus brinquedos... Pensou inocentemente.

Foi se chegando mais perto da cama, do berço... Espera... Quem é essa pessoa no Meu berço?

Sua mãe então, num movimento lento e cuidadoso, pegou o bebê do berço e o mostrou à menininha. Todos em volta, ficaram observando em silêncio aquela cena.

Soube naquele instante que nada mais seria como antes, só não sabia ainda se seria melhor ou pior. Não conseguia entender direito o que estava acontecendo.

Experimentou naquele dia pela primeira vez certa dor, se sentiu trocada.

Os anos se passaram e a dor também. Quase trinta e um anos depois do passeio de barco, lembra-se do instante em que viu pela primeira vez aquele bebê que amaria incondicionalmente pelo resto dos seus dias com uma intensidade que até então desconhecia.

Hoje, a menininha se transformou nesta mulher que lhes conta parte de sua história.E esta foi a forma que encontrei de render meu amor ao meu incomparável irmão, desde o dia em que ele veio abrilhantar minha vida.

Um comentário:

Bárbara Semerene disse...

Quase chorei!
Descobri que temos três coisas em comum: 31 anos, o mesmo tempo de diferença dos nossos irmãos (o meu também é três anos e meio mais novo) e, cá entre nós, escrevemos muito bem! hahahahah
Me conte mais sobre você, qual é sua profissão, como descobriu o meu blog?