quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Sede de mar...



De súbito ouviu um barulho. Estava sonolenta e não conseguiu identificar de onde vinha. Entreabriu os olhos e pode enxergar uma luz vinda em sua direção. Fazia calor, o dia estava ensolarado. Ouvia pessoas, pássaros, barulho de água e de repente deu-se conta de que havia dormido na areia. Havia poucos minutos, não sabia exatamente quantos.
Sentiu as ondas beijarem-lhe os pés. Correu os olhos entre as pessoas que ali estavam e avistou sua família reunida logo mais a frente. Que alívio.
Levantou-se, meio sem direção e foi até o encontro deles.
Pareciam mais distantes do que realmente estavam. Resolveu então caminhar na direção contrária, pois os encontraria quando voltasse.
Iniciou então, uma longa caminhada a beira mar, deixando que o vai-vem das ondas lhe aliviasse o calor dos pés que pisavam a areia quente.
Caminhou por cerca de meia hora em ritmo constante, nem lento nem rápido, mas distância suficiente para não mais ver onde sua família estava instalada. Não era motivo de preocupação, pois a casa não ficava longe dali.
Olhou a sua frente e viu um horizonte belo. Havia pedras e teve vontade de estar lá. Aquela paisagem esteve ali o tempo inteiro, mas só agora, anos mais tarde desde que freqüentava aquele lugar, havia lhe despertado a vontade de chegar mais perto. Quem sabe subir naquelas pedras. Parecia que elas tinham vozes, as ouvia chamar seu nome ao longe. Uma sensação de liberdade infinita tomava conta dela agora. Só desejava estar ali e em nenhum outro lugar.
Caminhou ainda um bom tempo até chegar às pedras. Eram torres altas. Ficou se perguntando como a natureza havia sido capaz de usar tanta sabedoria para colocá-las ali, em frente ao horizonte, como se tivessem sido estrategicamente posicionadas. Na verdade, quem poderia garantir que não foram realmente?
Lá de cima a vista era fenomenal. As pedras formavam um terreno amplo, plano e gramado.
Um grande sulco armazenava água das chuvas ou talvez do mar, e formava ali uma lagoazinha simpática que dava um ar especial e uma beleza sem igual à paisagem que só poderia ser vista por quem chegasse ao topo.
Caminhou um pouco mais adiante e entre uns pedregulhos amontoados viu algo que lhe remeteu ao passado. Naquele terreno inóspito, salgado, arenoso, observou que havia dentes-de-leão. Alguns ainda em formato de flor, num amarelo reluzente, contrastando com o limbo verde das pedras e, outros, já feitos bolinha de algodão, esperando um vento forte soprar ou alguma criança, ainda que crescida, espalhar suas penugens pelo ar. Resolveu sentar-se ali, e foi juntando as peças do seu grande quebra-cabeça.
O mar lhe intrigava, porque ele podia tudo. Tinha uma força insuperável e incansável.
Naquele momento desejou ser o mar, pois nada parecia abalá-lo. Olhava para sua grandeza fixamente. Só desejava trazê-lo para dentro de si.

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