sábado, 1 de novembro de 2008

Futuro do Pretérito

Deveria ter feito, protelou.

Poderia ter dito, calou-se.

Evitaria o mal entendido, prosseguiu.

Mandaria buscar, esperou.

E se continuasse listando, continuaria (continuo) conjugando verbos no futuro do pretérito.

Regras gramaticais estão mais que presentes em nosso cotidiano, sinalizando nossas fases de êxito e fracasso.

A vida parece um novelo de lã no balaio das avós. Enquanto parece bolinha e a ponta se desenrola conforme a necessidade durante o tecer em tricô de algo simples feito cachecol, tudo vai bem. Quando em um momento de distração, um ponto ou laçada errada faz com que o trabalho empregado no tecer até ali seja inutilizado, precisando desmanchar, é necessário ter a coragem para começar de novo. Acontece que muitas vezes ao desmanchar, a pressa ao puxar o fio de lã, mistura as pontas e já nem se sabe onde começa ou termina.

Haja paciência para reorganizar. E quantos nós... Das duas uma: cortam-se os nós e o pedaço embaraçado, emendando-se um pedaço inteiro com outro nó (o problema continua lá) ou pacientemente espera-se alguém que tenha unhas compridas chegar para desfazê-lo, a menos que a pressa seja tanta que prefira usar os dentes (quem já não fez isso?).

E nessa expectativa de encontrar solução para o problema em questão, você se encontra tentando subir pela escada rolante que desce. Os esforços são aparentemente inúteis e o sofrimento se estende.

Infeliz ou felizmente não se aprende a viver consultando manuais de instrução. Hoje em dia teorizaram muito tudo ou quase tudo. Ensina-se a conceber, a criar filhos, a ser mais humano, a ser melhor patrão ou colaborador (o termo empregado é muito tirano).

Cada vez mais cobra-se muito e fica-se esperando resposta. A liberdade é ilusória ou então preciso rever meus conceitos.

Não escrevo para que critiquem ou elogiem meus textos. Escrevo porque essas coisas me intrigam e eu preciso compartilhar. Escrever para mim também é maneira de me calar.

Enquanto fico aqui sentada imaginando o motivo da briga de família que já virou rotina na casa em frente à minha janela, ressoando os gritos de acusações diversas para quem quiser e não quiser ouvir, ao mesmo tempo tento resolver meus nós e organizar meu campo de batalha interior.

A verdade é uma só: conjugação verbal pode dar sentido e direção quando as coisas todas parecem nós insolúveis: só se aprende fazer, fazendo.

Aprenda a viver, vivendo!

A experiência prática tem muito mais valor que qualquer manual impresso em “offset”.

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