terça-feira, 18 de novembro de 2008

Mudança de Hábito

Há pouco mais de um mês troquei a rotina estressante do cotidiano de um hospital pelo tranqüilo quarto/escritório dentro de minha casa.

É aqui que tenho passado a maior parte das horas do dia, me dedicando à nova fase de aprendizado e encontro comigo mesma.

Tem sido uma experiência nova. Quebrar regras é uma delícia, principalmente quando a quebra está vinculada à construção de um sonho.

Quem dera que todas as pessoas pudessem entregar-se a um período sabático, ainda que dentro de suas casas.

Já li muitas histórias de empresários bem sucedidos, que entregues a uma rotina maçante de trabalho que poderia chegar a até vinte horas por dia, estendendo-se aos finais de semana inclusive, resolveram mudar de vida forçadamente após um ataque cardíaco ou outro motivo de saúde em situações de intenso estresse.

Eu preferi não esperar o extremo. Se fosse seguir a racionalidade, era provável que continuasse me forçando a fazer aquilo que vinha fazendo nos últimos vinte anos e talvez não sobrevivesse para contar minhas descobertas.

Por vezes ficamos tão condicionados e acomodados com aquilo tudo que acabamos por nos acostumarmos até com o que faz mal. Essa é a parte mais triste, a dor já nem incomoda mais.
Durante todos os anos em que trabalhei ajudando a salvar vidas, era obrigada a encarar a morte com frieza e como processo natural – como o é – sem me dar muitas vezes o direito de sofrer com aquilo. Vi morrer tanta gente em tantas situações, que mesmo o que para muitos seria a pior das visões, para mim era apenas rotina.

Não mais me abalava com mortes violentas, nem com sofrimentos estendidos pelas doenças degenerativas e mutiladoras.

A sensação que eu tinha é que aquele poderia ser – e pode – o fim de qualquer um de nós, incluindo as pessoas que mais amamos.

Talvez o que nos leve a passar anos na mesma condição é a inconsciência de que a morte se aproxima a cada dia que passa, e que o tempo que temos já não é mais o que tínhamos.

Chegamos aos trinta e poucos anos pensando que ainda temos vinte, só porque a natureza nos beneficiou com uma aparência jovial.

Ficamos boa parte do tempo revivendo coisas da adolescência e cultuando-as, como se isso fosse garantia de que o tempo parasse para nós e que ele só é vilão na vida de outras pessoas.

Adiamos sonhos com a desculpa falsa e ilusória de fazer amanhã, a semana que vem, o ano que vem, como se tivéssemos absoluta certeza de estarmos vivos nos próximos minutos e nos dias subseqüentes.

Isso na verdade não tem a pretensão de ser outra crônica. É um desabafo.

Resolvi jogar tudo pro alto porque eu não agüentava mais ficar longe de mim. Cansei de fazer do trabalho uma obrigação para ter dinheiro e não ter o prazer de gastá-lo como gostaria.

Não estou, contudo dizendo que todos chutem seus empregos para viver de brisa, mesmo porque isso é impossível.

O que estou sugerindo é que repense sua vida. Se o que tem feito realmente tem valido os esforços. Se o seu trabalho tem alguma relação com o que você acredita ou se ele apenas é uma fonte de renda.

Se existe alternativa para ganhar a vida sem submeter-se à tortura da obrigação, faça!

A experiência que acumulei nesses anos todos, serviu para me dar base e abrir a visão para o que realmente é importante. Percebi que poderia começar de novo porque todos os dias nascem em branco.

O que você fez ontem, não importa. Já foi. É o dia que você não tem mais, é o tempo que já passou.

O que você fará hoje vai determinar seu ânimo para acordar amanhã, se você acordar. Isso não tem conotação de morbidez, ao contrário, é a vida convidando-nos ao não desperdício do tempo.

Mude. Vá fazer aquele curso que adiou por tanto tempo. Vá fazer aquela viagem que só conhece nas fotos dos outros.
Vá ao show daquele artista que você só ouviu nos seus CDs. Encontre sua vocação em outra profissão que lhe traga mais que dinheiro. Não admita que os outros lhe digam o que fazer.

Não subestime sua capacidade porque alguém lhe disse que não daria certo.

Quando eu era criança/adolescente, adorava as histórias da Coleção Vaga-lume e li quase todas. E hoje, escrevo minhas histórias para que alguém as leia e quem sabe, aprenda com elas.

Há dois dias, minha mãe ao ler as histórias que agora escrevo, me perguntou inocentemente:

- Como é escrever?

Sem titubear respondi:

- É mágico. As palavras gritam dentro da gente pedindo pra sair. As palavras não respeitam horário. Tem dias que eu preciso levantar no meio da noite e escrever o que me vem à mente no caderno que fica sob a cabeceira da cama, quando o sono não é mais forte, não hesito em sentar-me diante do computador.

O que mais me deixa feliz é ter encontrado uma maneira de dizer para mim principalmente, tudo aquilo que ficou guardado esses anos.

Claro que quem escreve, sempre espera que alguém por pouco que seja, aproveite das experiências relatadas de forma a descobrir-se também.

A literatura tem o papel de atingir a todos sem distinção. De fazer com que as pessoas entendam que em nossas limitações e aspirações somos todos semelhantes. Somos só humanos.

Temos medo, dúvida, incerteza. Sentimos alegria, choramos, ficamos gripados. É igual pra todo mundo.

O que importa é a maneira como se tira proveito do que em um primeiro instante possa ser ruim. E não faça do seu sofrimento um quadro de auto - piedade. Aprenda com ele.

Nem todo mundo nasceu gênio, além de não sermos perfeitos.

Reinvente sua maneira de ser. Redescubra pequenas alegrias todos os dias.

Seja grato. Capacite-se para ser ainda melhor naquilo que já é bom.

Não faça da sua vida um campo de batalhas. Não se multiplique para ser seu próprio adversário. Não alimente a raiva.

É provável que houvesse menos guerras territoriais se nossas guerras internas tivessem uma solução mais diplomática, assinando um acordo de paz com a gente mesmo.




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