domingo, 23 de agosto de 2009

Escolhe, pois a Vida

Eu não tenho o hábito de assistir TV. Um dos fatores é a falta de tempo e o principal deles é a desmotivação em virtude da baixa qualidade dos programas exibidos, porém, hoje fui surpreendida com um fato que me inquietou e me fez sentar aqui para escrever.

Um dos programas dominicais do tipo “revista da semana” exibiu a história de um humorista da atualidade que deixou a casa de um reality show que se passava em clima rural.

Sou contra a exploração da miséria dos outros, mas o fato que mais me chamou a atenção foi a determinação do rapaz em questão.

Vi em sua história o retrato de muitas outras que permanecem no anonimato, mas recebi a mensagem como chama de esperança para muitos que julgam estar perdidos na vida.

Poderia ser apenas mais uma história de pobreza e violência, filho de dependente do álcool, fugindo de casa aos cinco anos de idade e enfrentando toda a sorte das mazelas humanas que só quem mora nas ruas deve saber. Passou medo, cheirou cola, esteve internado em casas de recuperação para menores infratores, até que ao ser levado para um colégio interno foi agraciado por Deus com uma mulher que fez toda a diferença em sua vida, talvez desempenhando na vida dele o papel da mãe presente que ele nunca teve.

Ele hoje colhe os frutos da escolha que fez. Escolheu viver segundo a vontade de Deus e a Ele sempre foi fiel. Escolheu caminhos que o levaram a vencer na vida e que diante de tantas ofertas do mundo poderia ter feito o contrário e sequer estar vivo para contar.

O mais triste disso tudo é que mesmo tendo se reencontrado com a família que ao longo dos anos nunca o procurou, as feridas em sua alma causadas pelo vício do pai e pela displicência da mãe ainda sangram e são chagas vivas.

É possível que o tempo amenize as dores, mas não seja o suficiente para curá-las. Fiquei imaginando que mesmo que ele fosse esse homem vencedor, porém não estivesse exposto na mídia, provavelmente esse reencontro não acontecesse. Infelizmente e tomara que eu esteja errada, talvez ele tenha interpretado a reaproximação da família como interesseira por aquilo que hoje ele possa proporcionar, por estar hoje em uma condição financeira muito diferente da que teve quando fugiu de casa.

Fato é que não importa quanto dinheiro se tenha, o que realmente tem valor na vida é paz, harmonia e a tranqüilidade de se ter um lugar para chamar de lar.

Acredito que mesmo podendo comprar o que ele queira, o vazio que existe pela falta da vida familiar jamais será suprido com bens materiais.

Chamo a atenção para a importância da amizade no lar. Entre pais e filhos e entre irmãos.

Ser pai e mãe implica em ser responsável pela formação do filho, pela orientação e principalmente pelo acolhimento. Ser filho implica em ser responsável com as oportunidades que lhe são oferecidas e acolher com paciência os conselhos dos pais, que também já tiveram sua idade e já sabem como são certas coisas da vida por experiência vivida e não por teoria. Para que haja melhor compreensão dos papéis devemos experimentar de vez em quando, colocarmo-nos uns no lugar dos outros e refletir sobre as situações, imaginando como nos sentiríamos e como agiríamos.

Nem uma coisa nem outra são tarefas fáceis. Os relacionamentos familiares muitas vezes serão conflitantes, campos minados onde devemos ter cuidado ao pisar. Antes de tudo deve haver respeito pelas opiniões, pelas diferenças e principalmente pelas pessoas.

Palavras são edificadoras ou destrutivas. Pense antes de falar. Não tenha reações explosivas que possam desencadear situações difíceis de consertar.

Algumas marcas deixadas na pele somem com o tempo, mas aquelas deixadas na alma seguirão conosco eternidade a fora e essas, não há laser que apague.

A nossa memória grava muito mais os sofrimentos do que as alegrias. Somos capazes de relembrar fielmente um momento, uma palavra, uma situação, uma pessoa que nos tenha ferido e por mais amor que possa ter existido, a mágoa apaga tudo o que restava de bom.

É impossível ser feliz e indiferente ao mesmo tempo.

Espero que antes do epitáfio você seja capaz de refazer seus caminhos e reconciliar-se com eles.

Espero que sejamos motivo de saudade depois dessa vida.

Faça as pazes com sua história antes que anoiteça. Não permita que o sol se ponha sobre seu ressentimento.

Nunca sabemos quando será nosso último alvorecer.


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