quinta-feira, 8 de abril de 2010

Cárcere Privado


A vida é a experiência do abstrato. Nada temos e tudo queremos.

Desejamos o amanhã para nos redimirmos de ontem. Enquanto isso esquecemos do hoje que passa por nós.

Sonhos são como as cenouras lançadas à frente dos cavalos de corrida e chega primeiro quem corre mais.

Capitalismo selvagem!

Esquecemos do primordial em nome daquilo que chamamos principal.

Ahhh... Bendito dinheirinho!

Renunciamos a tantas coisas em nome dele.

A ação da gravidade marca os rostos e as bocas pesam tanto que já não sorriem, não sobra força.

Tenho medo.

Medo de sufocar meus dias num movimento mecânico de acordar-trabalhar-dormir e me perder nos sonhos dos outros figurados em telenovelas globais.

E a vida lá fora passando.

Acena pra mim lá na rua, livre, enquanto estou na janela cercada de grades.

Na minha prisão de portas abertas eu sou abstrata como a vida.

Tudo se esvai num tempo que não é passível de medidas.

Tenho medo.

Medo da velocidade com que se passam os dias onde me percebo estagnada como em um sono profundo, anestésico.

Medo de acordar daqui a cinqüenta anos e não ter mais tempo de escrever uma única linha gloriosa naquilo que será minha lápide.

Medo de sonhar ser tão diferente e terminar como todos os iguais.

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