terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Não há como impedir



Viver é a arte do encontro ou desencontro.

Carlos Drummond de Andrade retratou muito bem isso em um de seus poemas mais famosos. Cantava o amor em todas as suas formas, com sua beleza e sua dor de uma maneira ímpar e tão atual que parece ter sido escrito ontem à noite:

“QUADRILHA
João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.”

Sinto como se a vida fosse uma estrada de ruas retas intercalada por curvas sinuosas que te mudam a direção sem aviso prévio, mudam e pronto. Você nunca consegue saber o que tem depois da curva sem que esteja passando por ela. Às vezes, a curva não é só curva. É também descida. Daquelas que causam frio na barriga, e que depois que toma embalo, não dá mais pra voltar. E quando a descida acaba e você olha debaixo para cima, a inclinação é tão íngreme que a tentativa de subir novamente seria uma escalada sem os equipamentos de proteção e sem o preparo necessário. Quase um suicídio.

Não resta então alternativa. O ideal é levantar, espanar o pó da roupa com as mãos e continuar na tal estrada. Se você não toma a iniciativa de seguir por vontade própria, logo ela coloca outra descida daquelas à sua frente e você não tem como escapar. O melhor a fazer é seguir. Um passo depois do outro, como criança que está aprendendo a andar. Depois do tombo existe a sensação de estar pisando em ovos, mesmo sendo devagar, o ideal é que seja constante. Nada de correr, nada de passos largos.

Hoje cheguei numa curva daquelas, e no fim da descida, recebi um presente. Agradeci verdadeiramente por poder ser capaz de despertar o mesmo amor que João dedica à Teresa no poema Quadrilha, escrito por Drummond, em alguém que o doa a mim gratuitamente, sem esperar que eu retribua. E pensei no mesmo instante em outra frase que um outro poeta escreveu, bem provavelmente no momento em que levantava do tombo:

“Saber amar é saber deixar alguém te amar”.

Compartilho a composição que foi escrita em minha homenagem, simplesmente porque ainda acredito no amor. Ele seria o homem perfeito, se eu o amasse. Porém para que o amor exista em mim para sempre, não o impeço, nem posso impedir que o faça. A única coisa que realmente possuímos de quem amamos é a lembrança imaterial no pensamento. E disso também sou refém.

"De vez em quando penso que sou
Refém da solidão, andando a esmo,
meu coração trilhou caminhos sinuosos
e foram tempos sem momentos luminosos,
durante os quais sei que não fui o mesmo.

Perguntas sem respostas, caminhos estranhos,
percorri infinitas vezes sem destino
dentro do silêncio, pensamentos insanos,
em murmúrios que provocam desatino

Até que a luz do amor brilhou no horizonte,
quando vieste a fazer parte da minha vida
e renasceu em mim a esperança já perdida,
de viver as maravilhas de que foste a fonte.

Mas trazendo a paz de um imenso amor
como mágica, chegaste à propicia hora.
e ao meu coração, trouxeste luz e calor
e caminhamos juntos, felizes, aqui, agora..."
Só me resta agradecer.
Obrigada.

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