segunda-feira, 31 de março de 2008

Lápis e Borracha. Sorte de Quem os Pode Usar.



Aprender a conviver com as diferenças e limitações pode ser bem mais proveitoso que ficar procurando em outras pessoas as semelhanças que nada acrescentam.

Certa vez alguém me disse que só conseguimos assimilar algumas mensagens depois de refletir sobre elas mais de uma vez. Às vezes as maiores reflexões estão em coisas a princípio corriqueiras e sem sentido. Como sou muito curiosa e tenho o sentido de reflexão bastante aguçado, quase sempre assisto a um filme ou leio um livro mais de uma vez, e a cada vez descubro coisas novas. Isso porque a cada dia estou num momento novo, perspectivas novas, desejos novos.

Assisti “por acaso” pela segunda vez ao filme “Romeu e Julieta”, uma versão muito brasileira, paulista e de extremo bom humor que reverencia o grande clássico de William Sheakspeare.

Por trás de toda a realidade e bom humor da história romântica embasada no amor que tudo supera, vi a imensa ignorância a que se submetem as pessoas que idolatram neste caso, o time de futebol pelo qual torcem. Odeiam-se sem motivo real. Quanta energia desperdiçada.

O que mais me impressiona, é que cotidianamente as pessoas rotulam outras de boas ou más e questionam o caráter em virtude do time, da religião, da cor, da raça, integridade física e/ou mental, da condição sócio-econômica e cultural e tantas outras amenidades que daria uma lista infinita de citações.

Fiquei triste comigo. Já estive nas duas posições: a que julga e condena e a que é julgada e condenada. Ambas são terríveis. Mas prefiro ser julgada a cometer injustiça ao julgar.

Certas situações nos ensinam grandes coisas. Um dia desses estava a caminho do centro de São Paulo e chovia muito. Dentro do ônibus, um rapaz portador de necessidades especiais feliz da vida em sua cadeira de rodas moderna e motorizada, ficou ao meu lado enquanto a viagem seguia e eu lia um livro. Puxou conversa comigo, falou da chuva e da preocupação que naquele momento ele tinha com uma outra pessoa que estava do outro lado do ônibus, na mesma condição dele, porém a cadeira de rodas dela era mais humilde e empurrada por uma moça que deveria ser filha ou neta da senhora em questão.

A minha surpresa foi ainda maior quando ele ao ficar observando aquela mulher ser empurrada por outra pessoa para descer do ônibus, ficou preocupado com ela que iria tomar chuva e me perguntou se eu tinha guarda-chuva e me aconselhou que me abrigasse até que a chuva diminuísse para que eu não adoecesse. Alguns pontos depois, despediu-se sublimemente e desceu.

O que isso tem a ver com o filme? Bem, são situações desconexas até certo ponto. Mas o que quero dizer é que tem gente que passa pela nossa vida só pra apontar aquilo que você deve corrigir enquanto é tempo.

Renato Russo quando cantou “ Pais e Filhos”, principalmente quando canta o refrão: “ é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”, certamente deve ter vivido alguma situação que lhe mostrou o quanto amar incondicionalmente faz crescer. Foi o que vi nas palavras do moço no ônibus, amor simplesmente.

Estamos muito longe da perfeição. Mas ela deve ser uma busca diária. Ser alguém mais compreensivo, menos inflamado nos faz sentir bem melhor e melhora a vida dos outros ao nosso redor. Essa situação, embora pareça corriqueira, foi para mim um divisor de águas.

Sorte eu ter escrito algumas páginas a lápis além de ter uma borracha eficaz. Aquele moço nem imagina que a sua atitude fez-me querer passar a limpo o rascunho de vida que eu tinha rabiscado até aquele dia.


Um comentário:

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

Amo esse blog, adoro visitá-lo ,sempre deixa um sabor de quero mais.Um abraço martha- lembra do meu blog? marthacorreaonline.blogspot.com, tenho postagem nova.Espero que me visite.