sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Um Jeito “Retrô” de Ser ou não Ser

Tão animais quanto todos os outros assim somos nós. O que nos diferencia dos demais e não é tanto motivo de vantagem é nossa capacidade de raciocinar (ou não) durante as vinte e quatro horas diárias, incessantes, inalteráveis e irrevogáveis.

Ah que maravilha passar mais da metade da vida, senão dois terços dela nas escolas, nos escritórios, dormindo pouco e mal, comendo de maneira pior ainda e tentando comprar algo que nunca se descobre o que é para preencher o vazio que nos assola o ser e o centro de nossa alma.

Nunca temos tempo para nada, somos muito jovens ou já estamos velhos, somos solteiros ou já nos casamos, ou temos filhos ou somos tios, às vezes nem uma coisa nem outra.

Rotulamos tudo e todos. Ter ou não ter, eis a questão?

O ensaio filosófico/reflexivo de Shakespeare sobre ser ou não ser já está “retrô” demais.

Deus virou produto, Jesus já não é mais só um caminho, talvez vire uma grande estrada e daqui a algum tempo quem sabe, cotas estarão disponíveis no mercado de ações e o slogan deverá ser: Salve-se quem puder (pagar mais). E então poderão adquirir-se mapas com as rotas de salvação.

Nas ruas tenho a impressão de estar em meio a uma multidão de andróides.

Além do ensaio de Shakespeare, também é “retrô” e está em desuso:

- ser gentil;

- ser paciente;

- ser amoroso;

- sorrir;

- ajudar;

- ser solidário;

- ter fé;

- amar, dentre outras inúmeras coisas fora de moda.

Eu às vezes tenho medo de tornar públicos meus escritos, principalmente meus poemas cheios de romance. Tudo é tão fútil e fugaz que palavras parecem não ter valor.

Se a vida continua após a morte e se é possível ver alguma coisa de onde quer que estejamos depois da passagem, talvez os grandes poetas e artistas estejam um tanto quanto decepcionados.

O que diria Carlos Drummond? O que pensaria Clarice Lispector? Fernando Pessoa? Camilo Castelo Branco?

E o que será daqueles que ainda acreditam em suas palavras como elo entre suas vidas, experiências, o mundo e as pessoas? Como falar das idéias importadas do interior mais profundo de suas almas, idéias essas muitas vezes que amadurecem como frutos em caixotes, armazenados nos porões dos navios até poderem aportar e ganhar seu destino para que sejam compreendidas e/ou saboreadas?

Como fazer o mundo entender que valor e preço são coisas diferentes e que a diferença de grandes coisas em nossas vidas está em alguém e não em algo?

O que existe de mais valioso no mundo são as pessoas e as experiências que podemos trocar com elas ao longo da vida.

Vale a pena insistir e fortalecer os laços. Vale a pena segurar as mãos, abraçar, ouvir, amar desmedidamente.

Vale a pena cada futilidade dita ou cada discussão em defesa de um ponto de vista consensual.

Vale a pena descobrir que pouco importa o quanto ou o que você ganha com isso, mas o quão preciosa é aquela presença na sua vida.

Pessoas em nossas vidas são mestres. Não importa se permanecem ao nosso lado por anos ou poucos minutos enquanto passa as compras no caixa do supermercado.

Observe mais. Todo mundo precisa de um colo, de atenção, de um afago, de uma palavra, de um olhar.

Palavras amorosas podem ter melhor efeito curativo do que o mais potente dos medicamentos. Um abraço pode tirar alguém de um estado depressivo. Paciência gera bem estar e paz de espírito.

Vejo que hoje em dia, diante dos tumultos da vida, as três necessidades básicas do ser humano são: Paz, amor e alimento, entretanto, o último deles é o menos importante, pois o corpo é capaz de sobreviver com o mínimo para manter-se saudável. Já, sem a paz e o amor, ninguém consegue ter motivo suficiente para querer alimentar-se e continuar vivendo.

Fome nem sempre é somente necessidade fisiológica, também é estado de espírito.

“Você tem mais poder do que imagina - talvez porque imagine pouco. Você tem mais poder do que usa – talvez porque pouco use. Você tem mais poder do que pensa – talvez porque tenha perdido esse hábito.” (GENTILEZAS - GABRIEL CHALITA).







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