
Eu fiz isso mais de uma vez.
Lembro que minha mãe me cedia um copo de vidro, porque era necessário observar as raízes depois, e lá ia eu, colocar o feijãozinho no algodão embebido em água.
Processo lento. Queria ver logo brotar, mas levava cerca de três dias até que o feijão inchasse, rompesse a casca e então despontasse à luz a primeira ponta do broto.
E durante o tempo que seguia depois do brotamento, ficava anotando diariamente as transformações da planta sem deixar que o algodão secasse.
Ao final de alguns dias, não sei precisar exatamente quantos, aquele feijão tornara-se uma plantinha com muitas folhas e caule flexível, porém, dispensável, pois já havia cumprido sua missão, uma vez que não é possível devido à deficiência de nutrientes, fazer com que surjam as vagens carregadas de outras sementes que então nos servem de alimento.
Lembro-me que ao final do experimento, o destino da plantinha era ser descartada no lixo.
Diante de alguns acontecimentos atuais, inevitavelmente sentimo-nos feito o tal broto de feijão.
Muitas vezes ocupamos lugares na vida de algumas pessoas que durará tempo suficiente apenas para que extraiam de nós o que precisam e que são incapazes de realizar sozinhas.
Certa vez, escrevi que ser semente também dói, porque as transformações que ocorrem durante a maturação até que o broto surja, são permanentes.
Felizmente em nosso caso, a natureza sóbria e sábia, permite que possamos administrar bem a dor da transformação para que sigamos adiante, embora muitas vezes nos sintamos tão descartáveis como o pé de feijão improdutivo.
O bom da vida é que tudo é cíclico e ao contrário do que acontecia com o feijão, nós normalmente temos companhia para compartilhar os momentos em que nos sentimos assim, descartáveis.
A lei agora é reciclar, deixemos então que a vida siga seu curso.
Nada é permanente. E por mais que seja difícil experimentar ser lançado como algo descartável e improdutivo, a raiz ainda existe, e estando viva, poderá se fixar em lugares muito mais firmes e nutritivos que um chumaço de algodão molhado.
Um comentário:
que maravilhosa comparação que tu fazes...e tens toda a razão no que dizes
beijos
Postar um comentário