quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Um Dia de Feijão

Quando você era criança, certamente sua professora um dia sugeriu que plantasse feijão no algodão.

Eu fiz isso mais de uma vez.

Lembro que minha mãe me cedia um copo de vidro, porque era necessário observar as raízes depois, e lá ia eu, colocar o feijãozinho no algodão embebido em água.

Processo lento. Queria ver logo brotar, mas levava cerca de três dias até que o feijão inchasse, rompesse a casca e então despontasse à luz a primeira ponta do broto.

E durante o tempo que seguia depois do brotamento, ficava anotando diariamente as transformações da planta sem deixar que o algodão secasse.

Ao final de alguns dias, não sei precisar exatamente quantos, aquele feijão tornara-se uma plantinha com muitas folhas e caule flexível, porém, dispensável, pois já havia cumprido sua missão, uma vez que não é possível devido à deficiência de nutrientes, fazer com que surjam as vagens carregadas de outras sementes que então nos servem de alimento.

Lembro-me que ao final do experimento, o destino da plantinha era ser descartada no lixo.

Diante de alguns acontecimentos atuais, inevitavelmente sentimo-nos feito o tal broto de feijão.

Muitas vezes ocupamos lugares na vida de algumas pessoas que durará tempo suficiente apenas para que extraiam de nós o que precisam e que são incapazes de realizar sozinhas.

Certa vez, escrevi que ser semente também dói, porque as transformações que ocorrem durante a maturação até que o broto surja, são permanentes.

Felizmente em nosso caso, a natureza sóbria e sábia, permite que possamos administrar bem a dor da transformação para que sigamos adiante, embora muitas vezes nos sintamos tão descartáveis como o pé de feijão improdutivo.

O bom da vida é que tudo é cíclico e ao contrário do que acontecia com o feijão, nós normalmente temos companhia para compartilhar os momentos em que nos sentimos assim, descartáveis.

A lei agora é reciclar, deixemos então que a vida siga seu curso.

Nada é permanente. E por mais que seja difícil experimentar ser lançado como algo descartável e improdutivo, a raiz ainda existe, e estando viva, poderá se fixar em lugares muito mais firmes e nutritivos que um chumaço de algodão molhado.


Um comentário:

Carla disse...

que maravilhosa comparação que tu fazes...e tens toda a razão no que dizes
beijos